domingo, 24 de fevereiro de 2013

Sobre Problemas De Comunicação Em (Pré)Relacionamentos


  Que relacionamentos são complicados, todos sabemos e temos um leque de informações que comprovam isso seja no cinema, em livros de auto ajuda ou em músicas dos Los Hermanos. O amor é um garotinho maroto com fósforos, lupa e uma caixa de formigas, no mínimo. Ou quem sabe uma versão realmente muito sacana do tradutor do Google especialmente programado para não funcionar do modo mais adequado e transformar tudo em uma imensa Torre de Babel (não a novela, porque essa ainda acaba bem de alguma forma, é mais como aquela de Gênesis mesmo).
  É que o amor é um dos poucos eventos que mesmo não envolvendo drogas, álcool ou filmes artísticos, consegue transformar o sentido de coisas básicas do tipo pare, siga e atenção. ‘Não’ é dado como um sim porque dar sim assim meio de cara seria desvalorizar-se a ponto de suscitar um não. ‘Talvez’ é tipo um “faça mais um pouco que eu vou ficar ali na sombra tomando limonada e te vendo encher carroças de feno o dia todo em quanto penso em nós dois e faço uma análise extensa que contempla como ficaríamos de branco na foto de perfil do facebook no próximo réveillon, se eu vou querer te emprestar todos os meus dvds e quem vai deixar nossos possíveis filhos na escola e tudo isso porque eu não quero ferir teu coração logo de cara e te ver enchendo carroças de feno é bacana, você fica másculo assim todo suado debaixo desse sol tropical e a propósito a resposta é não, não vai rolar, não daríamos certo juntos, a limonada acabou e tenho que ir embora porque já está tarde. E até mesmo quando ‘sim’ na verdade é um não porque um sim dado assim de cara é a coisa mais suspeita do mundo e vai te deixar tão impressionado a ponto de desistir.
  A impressão que fica é a de que todos estão sempre jogando, talvez para tentar se valorizar, de repente para tornar o processo mais eficiente, mas o que dá para notar de cara é que tem algo errado. Primeiro porque é bacana tentar vender uma imagem coerente ou bem intencionada de si mesmo, mas do momento em que começamos a nos podar ao ponto de esconder certos gostos, suprimir certas tendências e hábitos, aí se perde a naturalidade e está na cara que o navio naufragou. Porque veja bem, a ideia de uma cara-metade deveria ser a de alguém ao seu lado que te complete, que você se sinta a vontade para dividir todo o pedaço de vida que passar ao lado dela, um relacionamento onde um não tenha medo de abrir a porta da geladeira da casa do outro ou de mostrar o alienígena que seus pais estão criando no porão.
  Segundo, porque ninguém tem bola de cristal e essa tendência de agir de forma controversa não faz o menor sentido. O que se vê por aí é tanta gente querendo que você leia entrelinhas e o tempo todo, mas nem todo mundo é bom com charadas. Eu particularmente acabo com o bonequinho inteiro desenhado na forca, mesmo que a palavra em questão seja o meu próprio nome. E imagino que existam várias pessoas assim. Não dá para entender certas atitudes, as pessoas são um eterno mistério e nunca saberemos ao certo o que se passa na mente delas, de modo que sempre será desconhecido justamente o quanto elas estão tentando chamar a atenção, o quanto estão jogando, o quanto estão se importando, se estão se importando. Temos a natural impressão de que somos protagonistas do universo e soma-se a isso um mundo onde a tal da atenção é algo tão banalizado que não necessitamos sequer de forçar a memória para saber que alguém está fazendo aniversário. Está aí a receita para passarmos batido por algo ou alguém que estejamos procurando há muito tempo. Seja como for e lançando mão de tradutores do Google, caixinhas de formiga, bolas de cristal, charadas e jogos de forca, a única certeza que tem é que relacionamentos são complicados e que são complicados porque envolvem pessoas. Imagino que um dia relações humanas irão virar uma disciplina obrigatória em todos os cursos de todas as universidades, mas vai se tornar aquela matéria chata que você odeia não por desinteresse, mas por sair do curso sem entender nada sobre e que ainda vai reprovar no mínimo umas três vezes até encontrar um professor que passe a turma inteira.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Uma Visão Possivelmente Errada Sobre Algumas Pessoas Que Eu Não Gostaria De Encontrar No Corredor Da Minha Casa Numa Madrugada Fria E Chuvosa


    Uma das coisas que tornam o mundo esse território tão diverso, com todas as suas tribos, os seus eternos blocos de carnaval e seus vendedores ambulantes que te xingam na parada de ônibus apenas por perguntar o preço de uma garrafinha de suco e constatar que não vai poder comprar porque além do preço estar realmente acima da média você não tem dinheiro suficiente no bolso, é justamente essa variedade de rostos, de formas de se enxergar a vida, de temperamentos e principalmente das situações que eles irão ocasionar.
    Estamos constantemente esbarrando com pessoas que talvez nunca mais vamos ver na vida, ou que veremos, mas não daremos conta disso por nos ser algo realmente sem importância. E por vezes, embora isso seja irrelevante a ponto de não fazer sentido, temos uma opinião errada sobre essas mesmas pessoas. Porque aquele cobrador que reclamou muito por você só ter uma nota de dez para pagar sua meia-passagem e acabou te dando o troco todo em moedas de 50 centavos, pode no contra turno do expediente ser um drag queen de cachê mal pago, um palhaço de festa infantil que tem sido obrigado a lidar com crianças cada vez mais diabólicas ou apenas um pai que passou a noite em claro com seu filhinho doente no hospital, mas pelo comportamento pouco sociável que teve ao cruzar seu caminho, vai ser mencionado pelo menos quinze vezes durante o seu dia como um cobrador cretino e revoltado e será para sempre citado em conversas que girem em torno da qualidade no atendimento nos transportes públicos.
    Somos muito inclinados a primeiras impressões, talvez como uma forma de defesa nesse mundo tão inconstante. Isso faz com que tenhamos uma visão quase pré-concebida acerca das pessoas, ignorando fatores que influenciaram o comportamento delas ao nosso primeiro contato. E assim você não entende como aquele seu conhecido pode ter um melhor amigo tão assustadoramente estranho, como o cara tímido conseguiu uma namorada tão bacana, como o vendedor ambulante continua lá naquela parada de ônibus vendendo balas, refrigerante (e acredite) suco.
    O fato é que o amigo assustadoramente estranho pode ser um cara bastante atencioso, confiável e companheiro, o rapaz tímido talvez seja um perfeito cavalheiro que dê flores e cartas de amor que agradam a moça bacana e o vendedor ambulante pode apenas ter achado que você fosse um assaltante ou algum tipo de assassino em série de camelôs, porque esse tipo de coisa acontece o tempo todo.  Todos já agimos de modo esquisito e gostei muito daquela tarde no shopping, embora eu deva ter parecido estranho, talvez por ter faltado assunto, talvez pelas piadas que não foram tão engraçadas, talvez por ter feito algo que te fez ter medo, porque pelo visto eu te assustei e a primeira impressão deve ser sempre a que fica. 

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Conga La Conga e Aquele Nem Tão Admirável Mundo Novo



  Todo mundo adora novidades. O cheiro de novo e a sensação de que nunca teremos falhas, ou que se as tivermos será apenas em um futuro bem distante é muito atraente. Somos criados como que para fugir de problemas, para nos manter longe deles. Quer ter problema maior do que a procura por uma assistência técnica em um domingo, ou a corda de um violão que quebrou no feriado de carnaval? E quebrou de velha, devia ter trocado logo todas as cordas e antes dos problemas começarem. É assim com copos descartáveis, amores, móveis antigos, novas amizades. É assim com aquela tia velha que veio para passar o carnaval com você.
  As pessoas realmente se iludem com o novo. Imaginam que a verdadeira maestria está em desencavar novos tesouros. Mas no mundo de hoje está aí a parte mais fácil. Jack Sparrow passou 4 filmes à caça de tesouros, mas foram os personagens de sempre e aquele macaco estranho que fizeram o enredo se desenrolar (dormi quase 12 horas antes de escrever esse texto e estou sem criatividade para analogias e coisas do tipo, então me perdoem). Dá para entrar com muita facilidade na vida de alguém. Selecionamos afinidades para poupar o próprio trabalho da procura e a aventura da descoberta. Depois nos ocupamos da interação que fazemos questão de abandonar tão logo notamos os primeiros problemas e as primeiras incompatibilidades. As pessoas costumam reclamar que estão sós, mas fica bem difícil quando você não dá uma chance para o novo se tornar usado. Essas mesmas pessoas devem ter deixado passar a companhia dos seus sonhos sem nem se dar conta disso. E assim a Gretchen tem mais divórcios do que você tem meias em casa.
  A verdadeira mágica está mesmo em tornar o novo uma coisa antiga e pelo uso. Fazer a caneta ser usada até secar a tinta, descobrir que o seu amigo rói as unhas dos pés e mesmo assim não exclui-lo do facebook (até porque dá para colocar molho de pimenta no dedão do pé dele e ver o resultado disso parece legal). É poder dizer que te conheço desde o ensino médio, que namoro aquela moça há cinco anos mesmo que ela tenha dificuldades para se ver no espelho desde que assistiu a Espelhos do Medo. É levar seu celular para o conserto ao invés de joga-lo na gaveta e procurar por um novo. Consertar, tentar trazer de volta algo que deixou de ser como era antes justamente por valer tanto a pena, ou aceitar certas coisas como elas são, porque no fim nem nós mesmos concordamos com tudo o que fizemos e haverá dias em que nem eu mesmo vou querer me ver refletido em um espelho.
  Nada contra o novo, mas realmente acredito que as novidades foram feitas para envelhecer. Ou isso ou o mundo é uma imensa bola descartável, o que ainda não consegui acreditar. O cara que rói as unhas dá umas dicas legais de filmes, a tia velha conta ótimas histórias dos tempos de juventude, mas para tudo tem um limite e quatro Piratas do Caribe eram mais que o suficiente.  

domingo, 3 de fevereiro de 2013

O Conto de Fadas Da Vida Real Ou O Dia Em que Você Percebe Que Ninguém Pagou O INSS Dos 7 Anões


  O amor é um acontecimento tão simples como complexo, não por menos uma eterna contradição. Gosto da ideia de que ele seja algo fasciculado, sistematizado. Na verdade me daria tranquilamente com a forma como se namorava á cem anos atrás, onde se cortejava, onde existia um móvel chamado de namoradeira. Hoje em dia sequer essas palavras são usadas. Tudo está sempre mudando e muda tão rápido. Amor palavra tão pequena, mas que carrega embutida tantas implicações que são esquecidas, perdidas no imediatismo repentino de um simples “eu te amo” dito assim meio ao vento. Acho bacana, interessante, necessária e memorável essa fase mi mi mi, das mensagens de telefone, das cartas, do arrastar cadeiras, de se abrir portas, das flores, das idas a loja de esportes para comprar a camisa do time de coração do pai da moça. E fase também dos chocolates, há quem diga que dar chocolates é uma boa, mas aparentemente essa questão é bastante delicada, porque envolve alta carga calórica, uma sociedade com predisposição a diabetes e o estranho medo de que alguém esteja gostando de você, então não pretendo discutir esse tabu.
  Tudo isso é muito bonito, essa fase romântica sempre foi reverenciada e retratada pela humanidade em peças de teatro, comédias do Adam Sandler ou em contos de fada. O que eu não entendo é que na maioria das vezes as histórias terminam aí, no “viveram felizes para sempre”, quando na verdade, depois dessa célebre frase tem historia para mais dois livros no mínimo, de repente uma trilogia mais longa que o Senhor dos Anéis. Depois de casados, compromisso firmado, contas para pagar, filhos correndo pela casa, dias difíceis no trabalho, uma nova fase para se cuidar do outro, para ver suas verdadeiras implicações, aí que acredito que está a essência do verdadeiro amor. Fico me perguntando como a Branca de Neve se saiu no dia-a-dia com o Príncipe. Se ele ao chegar em casa ajudava a esposa com as crianças, se ele insistiu para que ela fizesse uma carreira profissional, como eles fizeram para segurar a barra quando começaram a ter que pagar o INSS dos sete anões, se ele fez questão de arranjar uma babá para as crianças, se ele aceitou perder um sábado com os amigos para ela ir passear no castelo da Rapunzel, se ele soube ser paciente e compreensível com as crises de TPM da Branca de Neve. Se eles se consolaram quando perderam pessoas que gostavam. Será que a Branca de Neve e o Príncipe criaram seus filhos e envelheceram juntos e felizes?
  Nada tem a obrigação de durar para sempre, a vida não vai parecer um eterno parque de diversões e os contos de fada nunca irão conter uma parte da história que incluem advogados e processo de separação de bens. Mas as pessoas não procuram outras apenas pelo simples prazer de uma caminhada de mãos dadas, um beijo, um status no facebook e um pouco de aceitação da avó quando perguntar pela sua namorada. Ou ao menos não deveriam.  As pessoas buscam alguém para dividir um pedaço de vida, para compartilhar o melhor e o pior delas, para crescerem, para não estarem sós e ainda assim muito bem acompanhadas. Quem sabe um dia as histórias continuem depois do viveram felizes para sempre. Quer haja castelos, príncipes e maçãs envenenadas. E sem chocolates, acho.
E só para constar, não tenho a mínima ideia se a Branca de Neve fica com um príncipe ou com um caçador, minha infância não foi a tanto e eu não quis pesquisar no Google.