domingo, 19 de maio de 2013

Considerações Sobre O Tempo, Tempo Perdido, Tempo Que Passa Rápido E Tempo Que Simplesmente Não Passa

  Tempo. Essa ampulheta que segundo a segundo despeja seus grãos de areia no árido deserto que é a vida. Ele está sempre lá, rindo de você, como aquele colega de classe ria na 2ª série por você ter de apresentar um trabalho ridículo de dança, já que ficou doente no dia em que a professora pediu para formar as equipes e acabou junto com outras quatro meninas. E apesar de querer muito, não pode bater nele, porque é muito maior e mais velho que você. Esse menino valentão é o tempo.
  Tempo que sempre caminha na dualidade. A eterna corda-bamba temporal que o torna simultaneamente herói e bandido, professor que nunca falta a aula e reprova todo mundo e aluno que vem da coordenação do curso dizendo que o professor faltou mas deixou um recado avisando que todos que entregaram o trabalho passaram com 10 na média, água no deserto e banho frio numa manhã chuvosa de segunda. E esse relativismo sempre incomoda. O tempo às vezes voa quando por exemplo estamos com alguém especial, mas quando quebramos alguma vidraria que custa 3 meses de trabalho, parece parar e a hora de ver o seu chefe e assumir a burrada que fez parece não chegar nunca. Há ainda quem controle o tempo, porque quando aquela aula de cálculo começa, temos uma demonstração de como uma hora e meia pode demorar a passar.
  Acho que como tudo, o tempo se tornou mais caro. E sem moeda para pagar por ele, voa e passa cada vez mais rápido. Quando as únicas preocupações da vida são quando o Miojo vai aparecer no seu prato, quanto tempo falta para as férias de julho e a que horas vai começar Timão e Pumba, 24 horas até que são um tempo bem longo. A sensação que dá para sentir é que minutos e segundos também inflacionaram e assim como o salário mínimo e a convocação da Seleção para a Copa das Confederações, o tempo hoje não dá para nada, o que faz coisas realmente idiotas que fizemos há dois anos continuarem vivas, não por serem marcantes, mas pela sensação de que elas aconteceram ontem.
  E por tudo isso e sempre na espreita, temos o tempo perdido. Porque quando você diz a professora que o garoto da 2ª série anda te perseguindo, ele te espera na saída da escola. E tempo é algo muito precioso para se perder com decisões erradas, aulas de geometria analítica e shows de Tecno Brega. Precisamos sempre levar em consideração que tudo o que fazemos tem uma consequência e que somos arquitetos de nosso próprio futuro. E como arquiteto do meu futuro vou voltar a viver de macarrão instantâneo, logo assim que descobrir se algum canal ainda passa Timão e Pumba.

domingo, 12 de maio de 2013

Sobre Estresse, Lhamas e Dias Difíceis no Trabalho



As pessoas andam estressadas. Estresse que te faz discutir com o cobrador por ele te dar o troco da passagem errado, estresse pelo cobrador te dar o troco da passagem certo mas em moedas, estresse pelo dia que começou, pelo time que ganhou. Nesse mundo onde é cada vez mais difícil se entender, onde o salário parece ficar cada vez menor ante as necessidades das pessoas e todo mundo anda por aí com suas próprias nuvens negras para fazer chover e estragar esse elaborado penteado ao qual damos o nome de vida, relevar certos atos, praticar certas gentilezas e tentar não amaldiçoar a existência do colega de sala que fica com os pés balançando a sua cadeira a aula inteira, é algo difícil de se fazer.
  Todo mundo sempre é tão inclinado a ser amigável e prestativo enquanto as coisas não saíram do planejado e os imprevistos não viraram problema. Superiores sorriem para você no primeiro dia de emprego, colegas de trabalho dão a vez para você usar a pia, o cara da limpeza te diz que não é uma boa usar o último box do banheiro, não se quiser dormir hoje um sono tranquilo e sem pesadelos. Mas quando tudo começa a sair do esperado, quando certas coisas que nos são atribuídas começam a fugir a nossa alçada e seu chefe descobre que o Sedex não pode entregar uma lhama até o fim do dia para a festa de aniversário do filho do presidente da empresa, aí começa a desandar e todo mundo se estressa. Inclusive eu, porque além da ideia não fazer sentido, o cadastro da compra da lhama tem que ser feito no meu nome, o que além de uma bela sacanagem, configura tráfico de animais e maus tratos, porque lhama nenhuma do mundo vai resistir a 40 graus, 35 crianças e uma roupa de palhaço. Na verdade nem eu resistiria a tudo isso de uma vez.
  E fora do script fica complicado não se estressar. A nova conformidade das situações que não correspondem ao esperado irritam e ninguém tenta achar uma solução plausível, ninguém quer dar as mãos e cantar Kumbaya. E o seu problema se vê despejado no resto da sociedade. Uma sociedade que não tem culpa por você não ter puxado a cordinha na parada do ônibus, por alguém não ter puxado a cordinha no último box do banheiro, por existirem crianças mimadas que não entendem a diferença entre querer e poder ter uma lhama na sua festa de aniversário. Todo mundo já está tão preocupado em fazer seus próprios problemas serem os maiores problemas que não vão conseguir entender o lado alheio, mesmo quando ele necessita de tão pouco.
  Dias difíceis sempre irão existir. Todo mundo se irrita com certas coisas, muitas delas por ocorrerem em avalanche, quando tudo em volta já não vai lá muito bem. Nesses momentos, não se estressar é coisa quase impossível. Mas é importante ter em mente que o restante da humanidade não tem culpa por isso e que ter um dia ruim no trabalho não justificaria o carro novo do meu chefe todo cheio de arranhões, uma briga com o vendedor de cachorro-quente ou uma cuspida em alguém que aleatoriamente passa embaixo da janela. Sempre temos que ter em mente que todos tem suas próprias dificuldades e principalmente que comprar lhamas não faz parte das minha atribuições, então, na boa, não vou mais me estressar com essa história.

domingo, 5 de maio de 2013

Sobre Amizades, Amigos e Cervos Cósmicos


  O mundo está cada vez mais insano, mais individualista, mais consumista. As pessoas andam sempre tão focadas nesse ideal de sucesso que é ter um apartamento para a maresia corroer à beira-mar e uma geladeira que converse com você quando chegar em casa após um dia cansativo de trabalho. Lutar, vencer, batalhar, tudo isso é essencial na vida de qualquer ser humano, mas como tudo o que existe, é questão de dosagem. E a overdose disso podemos observar aí fora. A humanidade cada vez mais relutante em viver em sociedade, os computadores exercendo funções cada vez mais necessárias em nossa vida e a geladeira que além de conversar com você, te diz o que precisa comprar no supermercado e se vai chover amanhã, o que na minha opinião não a torna mais inteligente enquanto geladeira.
  E como consequência de tudo isso, as pessoas estão esquecendo de valorizar e praticar o exercício da camaradagem e do companheirismo, para se trancafiar em seu próprio mundo, teoricamente à prova de frustrações e fracassos. Viver em sociedade é formar laços, é interagir, é precisar e também ser útil a alguém. Afinal, se aquela galera barbada da Pré-História não tivesse tido a ideia de se reunir em grupo em torno de uma fogueira para contar umas histórias de terror, grafitar umas paredes de gruta e se defender de tigres dente-de-sabre, a humanidade não teria chegado até aqui.
  O que acontece é que todo mundo anda meio descrente, com um pé atrás na hora de dividir essa barra de chocolate por vezes amarga que é a vida. Mas amizade é essencial e ocorre de diversas formas. Pode ser a amizade que se forma entre pessoas que convivem diariamente, onde fica implícita uma dependência mútua, mas que ainda assim vai além dessa necessidade. Ainda que seja uma relação de companheirismo que traga em si certas implicações que incluem todo mundo faltando prova para ficar na pracinha conversando coisas sem nenhum sentido, a certeza de que mesmo que ninguém saiba nadar e que todos estejam no Titanic ainda assim ninguém vai ser capaz de ter uma conversa racional e coerente e é claro, o fato de que se emprestar uma caneta, vai precisar pedir muito para tê-la de volta, sabendo de antemão que ela vai voltar com a tampa toda mastigada.
  Ou o amor-amigo, essa loteria onde conseguimos alguém que nos entenda, dispostos a dividir momentos juntos, onde uma caminhada de mãos dadas conversando sobre semáforos é uma coisa indescritivelmente boa. E é claro, a amizade entre ser humano e animal de estimação, seja ele um felino como nome de médico alemão, o poodle do seu amigo que gosta tanto de você a ponto de tentar pinar na sua canela por uma tarde inteira, ou quem sabe uma bela relação de companheirismo com um cervo cósmico. O fato é que todas essas formas de amizade tornam a vida mais leve, mesmo carregando implicações e “poréns” que sempre vão valer as concessões que acabam sendo feitas, sendo sempre o caminho melhor do que ter que receber um sms da sua geladeira te mandando comprar mais açúcar, o que é muito estranho e assustador, já que você guarda o açúcar no armário.