Feriado. Aquele
botão vermelho e piscando no seu calendário. Breve clarão de esperança, coragem
e fé nos momentos em que seu chefe está te roendo o juízo, a condução está
presa no congestionamento ou aquele professor que costuma faltar aulas e está
muito atrasado acaba aparecendo no fim do corredor, contrariando expectativas e
transformando tudo num misto de dor, incompreensão e entrega de notas baixas de
provas que você nem lembrava ter feito.
O mais interessante
ao se deparar com feriados, é o quanto nos planejamos para eles. Viagens são
projetadas, matérias de estudo com certeza vão ser postas em dia, seriados de
três temporadas com 20 episódios cada serão assistidos, visitas a parentes que
você nem lembrava existirem são viabilizadas. Todo o problema com o trabalho é
empurrado à força para depois. Segunda é um dia distante demais de uma vida demasiado
curta e o feriadão é o momento de diversão e alívio de problemas que dura o
bastante para jamais ter fim.
E então chega o dia.
A data vermelha do calendário, mesmo não sendo domingo. Você acorda às 12, abre
a porta da frente a tempo de ver um homem adulto de 100 quilos pular de uma
picape para dentro de uma piscina infantil. O ar cheira como se tivesse acabado
de cair uma chuva torrencial de cerveja. A trilha sonora faz jus ao quadro
quase apocalíptico que se forma. Tudo assusta bastante e a melhor alternativa é
dar meia volta e se trancar no seu quarto até a tormenta passar. E aí descobre
que seus parentes que não lembrava mais existir não só lembram da sua
existência, como irão passar o fim de semana prolongado em sua casa, dormindo
no seu quarto e ocupando o computador que você iria usar para assistir ao
seriado. É o momento que nos consolamos com a justificativa mais nobre possível,
de que com toda essa avalanche de acontecimentos, não haverá um modo viável de estudar. O que realmente é lamentável.
Até que por mais
etílico e surreal que esses dias sejam, chega o domingo. E poucas coisas são
mais doloridas que um domingo que encerra um feriado prolongado. Todo o seu
mundo cai, o cara de 100 quilos está estirado no meio do tapete da sua sala,
roncando como um motor de bomba de poço. Como ele chegou até sua casa é ainda
um mistério e como ele vai embora é apenas mais uma interrogação a divagar nesse
mundo surreal. Os parentes (que por sinal só pretendiam ficar até sábado) resolvem ir só segunda de manhã. Você acaba tendo que ver o Faustão
fazendo suas fantásticas tiradas sobre feriado, enquanto oscila sua vontade
entre cortar os pulsos e amarrar uma pedra na canela ao mergulhar na piscina
infantil. Enquanto isso, lembra dos cinco relatórios que enfiou na gaveta e da
reunião mensal sobre o uso consciente de copinhos de café, em que terá de
apresentar o gráfico de consumo de copos do último triênio, que aliás, faz parte dos
relatórios que você não leu e enterrou no fundo daquela gaveta. Fica provado
que feriados nem sempre são a melhor ideia e dias comuns de semanas comuns transcorrem
tão mais calmamente. Agradecimentos por amanhã ser segunda. E é nesse momento
que você se levanta e vai até a parede da cozinha procurar por outro feriado.
Vai entender o ser humano.