domingo, 10 de março de 2013

Sobre A Combinação Perfeita Que Nunca Encontramos


    Um traço constante á natureza humana é a eterna insatisfação. Temos a capacidade de modificar sempre nossa condição e utilizamos isso para adaptar a realidade em que vivemos ao nível que precisamos ou achamos que precisamos, para pintar muros de paredes com as cores mais absurdas possíveis e ao que parece, para criar grades de programação dominicais cada vez mais difíceis de serem assistidas na tv. Lógico que há embutido nesse processo de descontentamento frequente uma tentativa de otimizar, fazendo mais e melhor, mas que acaba sempre sendo distorcida para atender aos nossos gostos. É assim com pastéis, é assim com técnicos de futebol, é assim com as aulas da faculdade ou da escola, é assim com seu trabalho, com as cores de parede da casa da sua tia e é assim com o amor.
  Estamos sempre buscando a combinação perfeita, como algo pré-existente e feito por encomenda. A certeza de um universo que funcione mais ou menos a sua maneira é tentadora e ter uma pessoa ao seu lado que compartilhe dos mesmos gostos, das mesmas formas de enxergar o que acontece ao nosso redor e do mesmo medo patológico em relação a palhaços é um sonho que transforma tudo em um plano hipotético. É preciso abandonar a ideia de que você vai encontrar a mulher da sua vida quando num dia nublado acaba tendo que ir ao supermercado, mas ao sair de lá percebe uma chuva torrencial, fica embaixo da marquise esperando a tormenta passar quando de repente sente algo molhando seus pés. Se dá conta de que está em um local seco e que portanto, não pode ser a chuva. Olha para baixo e vê um porquinho na coleira urinando seus pés, com a pata traseira levantada como um cachorro. Fica indignado, mas ao olhar para o lado vê que a dona do animal é a garota mais linda que você viu na vida e que traja uma camisa estampada com a frase “tenho medo de palhaços” e uma foto do Selton Mello caracterizado naquele filme embaixo do dizer. E é preciso abandonar essa ideia porque não chove torrencialmente há muito tempo , a possibilidade de que uma garota crie um porquinho como animal de estimação é mínima e porcos provavelmente não urinam como cachorros levantando a pata traseira.
  Seres humanos são imprevisíveis, carregam sua própria filosofia sobre o que é certo e errado, seus próprios traumas e seu próprio posicionamento sobre questões que envolvem a cor verde-limão e jogos de cama mesa e banho. Nenhum relacionamento humano persiste sem concessão, sem que sejam feitos ajustes, sem que certos aspectos sejam compreendidos ou ao menos tolerados. E logo o amor não seria exceção.  Pessoas não são fabricadas em linhas de montagem, não são feitas assim aos pares e depois largadas nesse mundo louco para então iniciar uma frenética procura pelo outro que as completa. No fim o que vai determinar uma relação a dar certo é a predisposição a se tentar, o quanto podemos ser flexíveis e o quanto estamos dispostos a nos doar, afinal são os “dispostos que se atraem”.  Temos sempre a tendência de quantificar e qualificar tudo o que nos rodeia, para que possamos rotular e definir prioridades, tudo assim meio mecânico e frio. E quando uma coisa sai do plano previsto, por vezes deixamos de lado, sob pretexto de não ser uma combinação correta, mal sabendo que a combinação certa pode nunca existir, porque ela não é para ser encontrada, tem de ser produzida com um pouco de dedicação e da tal disposição, possivelmente sem porquinhos e sem o Selton Mello para auxiliar esse processo.

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