domingo, 3 de março de 2013

A Mentira Enquanto Elemento Desencadeador Das Relações Sociais Ou O Dia Em Que Eu Parei De Acreditar Em Velhinhos Nas Filas De Supermercado


  Uma das coisas mais marcantes acerca da mentira é que ela é tudo o que você precisa para criar o universo que quiser, provocar a impressão que desejar e conseguir o máximo de atenção em filas de supermercado. A mentira, diferente de outras drogas, dá liberdade de imaginação sem te tirar de um estado de quase sobriedade. Talvez o Spielberg precise saber disso.
  Apesar de ser um ponto negativo nessa sociedade onde as informações viajam mais rápido do que nosso filtro do que realmente é real e onde pessoas ainda clicam nos anúncios de “parabéns você foi o 1.000.000.000.000 visitante da nossa página, clique aqui e ganhe um iPhone”, a verdade é que mentiras acabam por desencadear relações sociais. E a forma mais simplória de se exercer interação a custa de uma mentira é matando gente famosa. Porque quando ainda é segunda-feira no trabalho, você não aguenta mais olhar pra cara de ninguém, todos trabalham nos seus devidos lugares em silêncio até que alguém ergue a voz e diz que deu no twitter que Arnold Schwarzenegger morreu, todos observam o efeito da interação social que a tal mentirinha desencadeia, culminando na proposta de se formar uma comitiva para ir até o gestor pedir para encerrar o expediente mais cedo, afinal não é todo dia que o Schwarzenegger morre e ainda pode dar tempo de assistir a “Um tira no jardim de infância”.
  Uma pessoa aparentemente idônea consegue abrir portas com mentiras, o que torna o mundo um lugar difícil para se viver e território de desconfianças frequentes, onde nos vemos obrigados a duvidar da autenticidade de contas do Compadre Washington no facebook e até mesmo de velhinhos em filas. Porque a partir do momento em que você se vê a mais de meia-hora numa fila de um supermercado, desligado do universo e tendo como companheiro apenas um simpático e honesto idoso na fila ao lado da sua, cujo o branco de sua cabeça sugere uma decência e honestidade de quem está a anos “trabalhando nessa indústria vital” a qual chamamos de Terra e que não faria mal a ninguém, ergue a voz e diz a você (mas naquele tom de quem quer que todos escutem) que o Raimundo Fagner morreu, que tem certeza disso e inclusive tem um amigo que trabalha com ele que confirmou hoje de manhã e passamos a ver o supermercado todo parar, princípios de incêndio começando no setor de higiene e limpeza e vidraças quebrando na entrada, até que todos percebem que isso não passou de uma mentira, fica realmente complicado continuar vivendo em um planeta assim.
  Claro que mentir é uma coisa praticamente inevitável, formas brandas de mentiras, embora não seja o proceder mais correto segundo a cartilha dos bons costumes, são inevitavelmente ditas e evitam muitos conflitos, como quando você responde que vai bem mesmo se não estiver quando alguém te pergunta ou naquele momento em que sua vizinha quer saber se a tosa do poodle dela ficou bonita e você prefere dizer que sim quando na verdade achava que aquilo realmente fosse um rato e já estava se preparando para espantá-lo da sua calçada, mas existem tipos de mentira intoleráveis e formas de se faltar com a verdade que apenas não tem uma razão de existência e que te deixam com um pé atrás com a sociedade e com anciãos em filas de supermercado. Aí fica difícil. E só para constar, essa foto da postagem é do Fagner. De verdade. 

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