domingo, 24 de março de 2013

Sobre Acasos, Destino E Cocô de Cachorro Na Calçada


   
  Existem coisas que não costumam acontecer com muita frequência, mas poderiam ocorrer o tempo inteiro e  caso levássemos em consideração não viveríamos em paz com nós mesmos, da possibilidade de uma bigorna cair do alto de um prédio em nossas cabeças a você sair bocejando na fotografia do Google Street View, passando pela certeza de que somos movidos por uma série de eventos que em primeiro momento aparentam ser aleatórios, mas percebemos depois, desempenham um papel decisivo no nosso dia ou em uma perspectiva maior, em toda a nossa vida.
  Embora pensar sempre nisso não nos deixaria dormir direito, o fato é que não somos nada além de um aglomerado de ações as quais não damos a devida atenção, porque até certa instância não nos levariam a nada em especial. E assim pisamos em cocô de cachorro na rua, sentamos na mesa perto da saída na lanchonete, paramos por 30 segundos para amarrar o sapato, perdemos uma aula para ficar conversando pelos corredores, vamos para a aula após feito um imenso esforço para chegar no horário e constatamos que foi o professor quem faltou para ficar de conversa pelos corredores (sistema público de educação tem de tudo), perdemos a hora, olhamos para o lado. Cada ação desencadeia uma nova gama de situações que vão muito além de voltar para casa e pesquisar na internet como limpar um sapato branco todo sujo de cocô.
  Tudo é algo muito maior, existe uma ligação entre os fatos que discorrem em nossa vida e que até então eram aleatórios. O que faz dois carros colidirem numa avenida movimentada além de seis cervejas, muita pressa e o medo de que aquele velhinho de muletas do outro lado da rua atravesse correndo e te assalte? O que faz com que duas pessoas que nasceram em lugares diferentes, cresceram em cidades diferentes e estudaram em locais diferentes desenvolvam um gosto tão parecido para certas coisas? O que faz com que elas se encontrem nesse imenso e confuso jogo de videogame que é a vida? O que faz com que o velhinho de muletas esteja casado há 50 anos? O que faz com que ele esteja usando muletas?
  São perguntas que muitas vezes nem paramos para nos fazer, ou que limitamos a resposta a “sorte e azar”, como se tudo fosse assim jogado no cassino, mas a verdadeira explicação na realidade ninguém pode dar. O fato é que existe uma força que mantem tudo funcionando e faz com que nem todo mundo do bairro vá até a padaria no domingo á tarde, porque se fossem a loja seria incendiada (nunca entendi porque as pessoas ficam tão agressivas na fila da padaria aos domingos). A mesma força que faz com que nem todo mundo queira ir ao cinema no mesmo dia e horário, a não ser claro, que seja estreia de alguma saga crepuscular.
  Existe algo muito maior e do qual o dia de hoje é só parte do processo. Um processo que se faz com o fim de relacionamentos duradouros, eliminações em semifinais, anos desperdiçados em empregos ruins e senhoras de meia-idade passeando com poodles sem carregar sacolas para o cocô, sendo essa última parte a mais sacana da longa teia de acontecimentos ao qual nos vemos envolvidos e que mesmo que ainda não tenhamos percebido, nos levará a novas situações. 

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