Existem coisas que
não costumam acontecer com muita frequência, mas poderiam ocorrer o tempo
inteiro e caso levássemos em
consideração não viveríamos em paz com nós mesmos, da possibilidade de uma
bigorna cair do alto de um prédio em nossas cabeças a você sair bocejando na fotografia
do Google Street View, passando pela certeza de que somos movidos por uma série
de eventos que em primeiro momento aparentam ser aleatórios, mas percebemos
depois, desempenham um papel decisivo no nosso dia ou em uma perspectiva maior,
em toda a nossa vida.
Embora pensar sempre
nisso não nos deixaria dormir direito, o fato é que não somos nada além de um
aglomerado de ações as quais não damos a devida atenção, porque até certa
instância não nos levariam a nada em especial. E assim pisamos em cocô de
cachorro na rua, sentamos na mesa perto da saída na lanchonete, paramos por 30
segundos para amarrar o sapato, perdemos uma aula para ficar conversando pelos
corredores, vamos para a aula após feito um imenso esforço para chegar no
horário e constatamos que foi o professor quem faltou para ficar de conversa
pelos corredores (sistema público de educação tem de tudo), perdemos a hora,
olhamos para o lado. Cada ação desencadeia uma nova gama de situações que vão
muito além de voltar para casa e pesquisar na internet como limpar um sapato
branco todo sujo de cocô.
Tudo é algo muito
maior, existe uma ligação entre os fatos que discorrem em nossa vida e que até
então eram aleatórios. O que faz dois carros colidirem numa avenida movimentada
além de seis cervejas, muita pressa e o medo de que aquele velhinho de muletas
do outro lado da rua atravesse correndo e te assalte? O que faz com que duas
pessoas que nasceram em lugares diferentes, cresceram em cidades diferentes e
estudaram em locais diferentes desenvolvam um gosto tão parecido para certas
coisas? O que faz com que elas se encontrem nesse imenso e confuso jogo de
videogame que é a vida? O que faz com que o velhinho de muletas esteja casado
há 50 anos? O que faz com que ele esteja usando muletas?
São perguntas que muitas
vezes nem paramos para nos fazer, ou que limitamos a resposta a “sorte e azar”,
como se tudo fosse assim jogado no cassino, mas a verdadeira explicação na
realidade ninguém pode dar. O fato é que existe uma força que mantem tudo
funcionando e faz com que nem todo mundo do bairro vá até a padaria no domingo
á tarde, porque se fossem a loja seria incendiada (nunca entendi porque as
pessoas ficam tão agressivas na fila da padaria aos domingos). A mesma força que
faz com que nem todo mundo queira ir ao cinema no mesmo dia e horário, a não
ser claro, que seja estreia de alguma saga crepuscular.
Existe algo muito
maior e do qual o dia de hoje é só parte do processo. Um processo que se faz
com o fim de relacionamentos duradouros, eliminações em semifinais, anos
desperdiçados em empregos ruins e senhoras de meia-idade passeando com poodles
sem carregar sacolas para o cocô, sendo essa última parte a mais sacana da
longa teia de acontecimentos ao qual nos vemos envolvidos e que mesmo que ainda
não tenhamos percebido, nos levará a novas situações.
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