domingo, 28 de outubro de 2012

Indecisão Profissional E Talentos Desperdiçados

  As pessoas estão fazendo tudo mais cedo. Se casando mais cedo, morrendo mais cedo, tendo filhos mais cedo, acordando mais cedo (não que por isso durmam mais cedo também). E principalmente estão exercendo o ofício máximo da humanidade de escolher caminhos errados e tomar decisões das quais irão se arrepender por toda uma vida, cada vez mais cedo.
  Escolher uma profissão por exemplo. Essa escolha tem sido forçada a ser cada vez mais precoce. Como por jovens de 14, 15 anos para decidirem onde atuar por uma vida toda, se tudo que eles querem é ir ao show do Restart ou faltar aula para assistir a Hannah Montana? Tudo na vida tem seu tempo. Por isso mesmo não adianta dar pausa no Xbox para ir a tantas feiras de profissões, testes vocacionais, cursinhos específicos. Óbvio que é preciso crescer e que o tempo é implacável, mas vai ver não  é preciso ter tanta pressa em se tornar um adulto socialmente aceito, mas um profissional  lastimável e insatisfeito, como tanto acontece, só para atingir um status, fazendo com que sua família te entenda, respeite sua coleção de Smurfs feitos de chumbo e seu medo quase patológico do palhaço Bozo, que persiste até hoje.
  Além disso, fico imaginando quanta gente boa perdemos todos os dias para esse requisito social que é estar graduado em algum desses ramos tidos como top. Quantos excelentes cineastas, comediantes, escritores, jardineiros, criadores de porco e vendedores de pipoca doce perdemos a cada colação de grau só pelo medo de uma simples surra e alguns anos expulso de casa? É preciso crescer sim, mas para se realizar e tornar o mundo algo como aquele da propaganda de achocolatado, onde correm rios de chocolate branco e se surfa em biscoitos recheados. Do jeito que estamos indo, vamos continuar injetando café com leite nas veias um dos outros por muito mais tempo, só para satisfazer algum requisito da sociedade, mesmo que seja preciso negar nossas aptidões e esquecer de vez o surf no chocolate.


domingo, 21 de outubro de 2012

Intolerância, Ônibus Lotado, Motorista Orlando ou Simplesmente Porque Jogar Garrafa Pet no Para-Brisa Dos Outros É Refresco #2


  Ônibus lotado. Calor. Mulher com o plano infinito de ligações sentada ao fundo. Cheiro de suor. Também ao fundo um cara sentado no assento da janela, garrafa pet na mão. E nesse momento você percebe que já poderia estar ganhando seu próprio dinheiro, o suficiente para comprar seu próprio carro. Então se dá conta de que não tem sequer para a habilitação e que no momento só tem o dinheiro contado para a passagem e olhe lá, pois não está encontrando a moeda de um real que completa o valor. Nisso o ônibus já saiu da cidade. Existem coisas com as quais temos que nos acostumar. O Mano Menezes treinando a seleção, pessoas que homenageiam ex-presidentes decepando dedos mínimos. Médicos que decepam dedos por dinheiro. E ônibus lotados.
  Acostuma-se também com a intolerância. Mal a viagem havia começado, aprendi o nome do motorista. O cobrador mandou Orlando abrir a porta do ônibus. Deixara uma velhinha embarcar cheia de sacolas, mas deve ter achado que o pé da pobre tia já era peso extra, porque fechou a porta praticamente na canela dela. Passado o primeiro ato, o homem com a garrafa pet atira o plástico pela janela e acerta um carro. Buzinas, automóvel vermelho ultrapassando o ônibus. Somente um ocupante no veículo. Ou ele iria realizar um assalto ou dar carona ao cobrador, de tão lotado que estava aquele dia. Nenhum nem outro. Fez o coletivo parar, saltou do carro e gritou para o Orlando, perguntando quem tinha jogado a bendita garrafa. O motorista não só abriu as duas portas do ônibus como ainda gritou que tinha sido do fundo do coletivo.
  O homem do carro desferiu alguns palavrões, o da garrafa se desculpou. O homem do carro disse que daria um tiro no outro, o da garrafa mudou de cor pela terceira vez, limitando-se a gaguejar pedindo desculpas novamente. Depois fiquei sabendo que o homem do carro vermelho era um policial da região, famosos pelo pavio curto. Foi embora, ficou tudo por isso mesmo. O homem que jogou a garrafa provavelmente nunca mais fará isso, mas não deixará de fazê-lo para salvar a natureza, ao menos não a do planeta. Vai deixar de jogar lixo na estrada para salvar a sua própria existência, arrisco esse palpite. De todo modo, naquele dia ficou provado que estamos sempre atirando fora garrafas e mais garrafas de tolerância, com ou sem ônibus lotado.

domingo, 14 de outubro de 2012

Intolerância, Ônibus Lotado, Motorista Orlando ou Simplesmente Porque Jogar Garrafa Pet no Pára-Brisa Dos Outros É Refresco #1


 Um grande acontecimento social é o ônibus lotado. Com todos os seus elementos representativos, pegar um transporte coletivo em horário de pico pode ser uma das experiências mais divertidas do dia de qualquer um, ou o mais lógico, pode se tornar o meio mais curto e barato para se aborrecer consigo mesmo e a sociedade como um todo.
  No meu caso, não pude deixar de ficar contente em ver que o ônibus estava cheio, mais feliz ainda quando dei conta de que estavam garantidas 2 horas de viagem em pé, radiante  em ver o estado do ônibus que eles disponibilizam para uma viagem metropolitana. Aquilo não deveria rodar nem dentro de uma única cidade. Não encontrei palavras ainda para descrever a emoção ao lembrar o valor da passagem: 6 reais por todo esse conforto e diversão. É ou não é para ficar feliz com tudo isso? Uma sardinha eu já sabia como se sentia. Naquele dia aprendi mesmo como um atum importado viaja (pelo tempo da viagem, embora eu ache que alguns dos peixinhos enlatados chegaram bem mais rápido que eu ao seu destino). E como todo evento social, um ônibus lotado costuma ser sempre uma mescla de figuras tão caricatas que sempre observamos nessa modalidade de transporte:

#1 O Motorista: Sem ele o ônibus não anda. Mesmo com ele, por vezes também não. Mas faz o que pode. Nesse caso o motorista é o Orlando. Um sujeito sem noção,troll e fanfarrão.

#2 Tia Velha Com Um Número Absurdo de Sacolas: Como ela conseguiu trazer tudo até a parada sozinha, já que mal consegue subir os degraus do ônibus é a grande dúvida. Outro mistério é como consegue descer as mesmas sacolas. A sorte da Tia é a existência, cada vez mais rara, de pessoas dispostas a ceder seus lugares.

#3 Sujeito Sem Consciência Que Está Sentado: É aquele cara que não se levanta quando a Tia Velha Com Um Número Absurdo de Sacolas (como ela trouxe tudo até a parada sozinha?) entra no ônibus lotado, mas que é o primeiro a dar o lugar quando a gostosa aparece.

#4 Sujeito Sem Noção Que Vai Em Pé: Faz piadinhas sem graça do tipo “é igual a coração de mãe, cabe mais um”. Às vezes diz para as pessoas que vão subir que pararam o ônibus errado, temendo a lotação já absurda. Se a gostosa não tiver conseguido um lugar, costuma dar em cima dela, ou ao menos seca-la descaradamente. Em fins de semana essa figura é mais frequente e conhecida também como O Bêbado. Se o mundo se desfizesse em um apocalipse Zumbi, o Sujeito Sem Noção Que Vai Em Pé corresponderia ao gordinho nonsense  que sempre acaba sendo o primeiro a morrer e que ainda quase ferra com a vida de todo mundo.

#5 A Gostosa: Bem, ela é a gostosa. Gosta de se exibir, é meio extravagante. O telefone dela sempre toca e geralmente o ringtone é alguma música de funk daquelas mulheres com voz de travesti. Acho que seria a segunda a morrer no apocalipse zumbi, pela falta de inteligência.

#6 Mulher Com Algum Pacote Infinito de Telefonia: Ela consegue ir pendurada no celular alheia ao mundo, mesmo que a viagem dure mais que trinta horas. Deve ter uma língua e uma bateria atômica, porque a conversa nunca acaba e o celular nunca descarrega.

#7 O Cobrador: Já que ônibus não é de graça, sem cobrador nada funciona. Possui um raciocínio matemático e lógico provavelmente muito acima da média pois que para ele “afasta mais um pouquinho pra trás que cabe mais gente”. É da mesma turma do motorista, então deve ser outro fanfarrão, só pode.

E com toda essa combinação acaba acontecendo de um tudo. Pessoas vomitando em outras, polícia buscando drogas, assaltos. E gente jurada de morte por atirar garrafas pet em para-brisas, o que eu prometo contar no próximo post. A intolerância também pega ônibus lotado.


sábado, 6 de outubro de 2012

Sobre Eleições, Política E Candidatos Sem Noção



 
Enfim chegaram as eleições. Tantos candidatos, tantos partidos, tantas propostas. Para muitos o horário político eleitoral faz rir muito mais que qualquer Zorra Total, embora isso seja mesmo muito fácil. E beira o absurdo as coisas que vemos nos programas políticos.
  Vemos os mais variados candidatos e acaba-se fazendo uma distinção entre o considerado hilariantemente sem sentido e o aceitável. Mas o que é aceitável? Políticos engravatados, com musiquinhas legais ou nem tão legais assim, uns vídeos com umas crianças com catarro escorrendo pelo nariz ou bebês assustados sendo abraçados (eu entendo o susto, também tenho medo de palhaço e até hoje) e propostas baseadas em palavras bonitas, que muitas vezes não dizem nada com coisa nenhuma, o povo não entende, mas sabe que em alguma hora vão começar a bater palmas e é o momento de soltar fogos. E tudo isso o que é pior, porém lógico, costuma ser da boca, ou melhor, do terno e gravata para fora.
 E muitas vezes o rapaz que quer dar Raduken na corrupção, o Wolverine ou o Irmão Toinho “marinheiro de primeira viagem, mas o comandante da embarcação é Jeová” podem ter de fato ideias simples e ótimas intenções, mas nunca vão ser levados a sério. De todo modo fazem a gente rir muito mais e nem que seja por isso, merecem nosso respeito. E sem canetas.