domingo, 30 de dezembro de 2012

Um Post de Feliz Ano Novo (e Porque Não Sobre o Natal?)


  Em parte porque eu estava com muita preguiça de escrever sobre Natal, em parte porque todo mundo ia sair me acusando de ser um sem-infância-destruidor-de-sonhos e em parte por não gostar dessa data, não fiz uma postagem natalina. Mas agora que já passou decidi aproveitar a ocasião e falar um pouco sobre esse clima de Merry Christmas que eu honestamente não gosto. Eu até acho legal a ideia da festa sabe, é o aniversário de Cristo e época de se lembrar o que aconteceu na noite feliz. Só que esse espírito da coisa nunca conseguiu me contagiar. O que acontece no plano real e material parece ser apenas pretexto para justificar aquele comercial da sapataria que toca a mesma música desde que eu me lembro e vai ver que muito antes disso, para termos uma matança indiscriminada de perus e para um frango peitudo com nome de carro popular custar R$ 35,80 o quilo (e no mesmo supermercado um quilo de batatas por 4 reais). Enquanto eu era criança, a ilusão do Papai Noel me comprando com presentes ainda me fazia acreditar em Natal, mas e o aniversário de Cristo foi parar onde mesmo?
  Papai Noel. Para mim está aí outro problema com o Natal. Correndo o risco de ser odiado por crianças e seus pais em todo o mundo (e vejam a pretensão de achar que todo o mundo lê isso) e de tomar um processo da indústria da marca de refrigerantes, eu passei a duvidar da idoneidade do “Bom Velhinho”. Para começo de história: Porque Papai Noel tem que morar no Extremo Polo Norte? A resposta é simples. Impostos meus amigos, impostos. Isenção fiscal e salários muito abaixo da média que deve ser paga na China. Posso ver os elfos, duendes e sei mais o que, submetidos a longas jornadas de trabalho, pois justiça trabalhista de país nenhum do mundo irá monitora-los. Papai Noel aparentemente não paga imposto de renda e há fortes indícios de que ele falsifique brinquedos em sua fábrica. Porque eu nunca entendi isso: se uma criança escreve “querido Papai Noel, gostaria de ganhar uma Barbie Lago dos Cisnes” com que direito ele produz um brinquedo assim que é marca registrada? Isso sem falar nas invasões à propriedade privada e sua fonte de renda contestável, porque eu duvido que o salário de garoto propaganda do refrigerante dê para pagar tudo aquilo. E muito esperto Papai Noel ainda associa sua imagem à de São Nicolau, esse sim parece ter sido um cara legal. Mas o “bom velhinho” deveria ser procurado pela Interpol.
  Por essas e outras, sem mencionar que Natal sempre me deixa muito triste, um tipo de tristeza que nunca consegui explicar, é que não gosto do dia 25 de dezembro e que nunca entendi porque na noite do dia 24 já tem tanta gente bêbada. Mas o Natal tem um ponto positivo. Ele traz com ele o Ano Novo. Essa data já é diferente, difícil ver alguém que não se anime com a possibilidade de uma nova chance. Dar graças por estar vivo, repetir os acertos e principalmente ir em busca de mudar o que estar errado. É como se Deus te desse uma nova folha em branco para reescrever sua história, além de um volante para a Mega da Virada, já que não custa nada tentar. Gosto dessa sensação de recomeço. E tem as coisas explodindo por toda parte na hora da virada, o que confesso achar bem legal.
  Então se você teve paciência para chegar até o fim do texto e ao fim de todos os textos até aqui e brincadeiras à parte, feliz Ano Novo. Que 2013 seja um período realmente de muitas realizações e mudanças positivas e um pouco de tempo perdido com o Nada Com Coisa Nenhuma, se possível. 


domingo, 23 de dezembro de 2012

Sobre Viagens, Homens das Cavernas e Prato de Papa


  Não pelas dez horas de viagem que parecem intermináveis. Não pelas dez horas de viagem que parecem mais intermináveis ainda porque alguém quis ir o percurso inteiro ouvindo a discografia da Paula Fernandes sem fone de ouvido. Não pelas lanchonetes de rodoviária que tentam te vender um pacote de clube social por R$ 6,50. Não por alguém que tenta embarcar no ônibus com 100 reais de camarão em um isopor. Viajar é algo diferente do habitual porque é quando deixamos nosso modo de vida cotidiano, nossa rotina por vezes tão exaustiva e aquela mania de olhar as horas no celular a cada 2 minutos e esquecer que horas eram apenas para nos distrair, conhecer novos lugares ou relembrar os antigos e é claro para ver a sua tia, mesmo apesar dos seus dezenove anos e barba na cara te mandando sair da cozinha e ir brincar com as outras crianças.
  E o que mais me fascina nessas ocasiões em que podemos viajar, é a chance de observar a vida passando, o tempo que parece correr de um modo diverso do nosso, as pessoas com preocupações tão diferentes, as cidades com ruas que  talvez nunca saberemos o nome e com candidatos a vereador chamados “Prato de Papa”, sério tem um político por aí com esse nome. Por uma mochila nas costas e sair (ainda que se estiver acompanhado de alguma mulher, quer seja sua mãe, sua namorada ou sua irmã, não importa, pois elas irão levar o triplo de coisas que uma pessoa é capaz de usar mesmo considerando uma enchente, um tornado e um apocalipse zumbi, vão voltar com o dobro da bagagem e vai sobrar para você ter que carregar isso tudo) é uma oportunidade única para dar uma chance ao que realmente importa. Se entender melhor, ouvir os sons da natureza, quem sabe se decidir a levar uma nova vida. Ir a algum lugar e achar nele o que uma pessoa precisa para ser feliz, para constituir uma família, para mudar de nome e passar a se chamar Frederico Augusto. Ou apenas para dar uma relaxada, uma respirada, renovar as baterias e mudar de ares.
  Temos sempre o hábito de viver de modo tão atribulado, sempre às voltas com as preocupações que escolhemos ter que terminamos por esquecer as coisas mais simples, como o sol nascendo ou se pondo, um céu bonito numa noite estrelada, um banho de chuva, uma boa conversa sem preocupação com o tempo. Assumimos uma identidade robotizada, onde os caixas da loja de departamentos são capazes de te deixar ir embora depois de quinze minutos na fila sem levar o produto simplesmente por não ter troco, sem tempo para pensar e apenas em prol da sobrevivência pela sobrevivência. E eu aqui pensando que o ser humano havia evoluído e criado toda a estrutura moderna que dispomos justamente para viver mais e melhor, com mais tempo para tentar ser feliz. Isso faz pensar que mais tranquilo e sábio era o homem das cavernas, que mesmo por necessidade e não por opção vivia viajando. Desse modo, quer seja em busca de fogo, quer seja apenas por um pouco de paz, viajar é uma daquelas coisas que todo mundo precisa fazer de vez em quando. Mas se for de ônibus não tente levar camarão. Dá uma confusão feia. E não esqueça o fone de ouvido.


segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Só Um Aviso



  Aproveitando a onda de total falta de inspiração e para nossa alegria, estarei impossibilitado de escrever novas postagens durante as duas semanas que se seguem. É preciso uma pausa para se vivenciar, assim como é preciso vivenciar para que tenha alguma texto que valha pena nesse blog, porque francamente, tudo bem o blog ser sobre nada com coisa nenhuma , mas existem limites. 
  Espero retornar em breve com novas histórias. Apenas um aviso, porque por incrível que pareça vez por outra aparece quem goste de ler isso aqui, e assim se foram mil acessos. Obrigado e até logo.
  

domingo, 9 de dezembro de 2012

Das Peculiaridades De Estar Sozinho


  Provavelmente uma forma de manter o amor-próprio em alta. Provavelmente uma forma de explicar o fato de você estar sozinho olhando para uma noite muito bonita com cara de babaca. Provavelmente porque você acabou baixando a trilha de Once – Apenas Uma Vez (quem não assistiu deveria mesmo assistir), para ficar ouvindo no celular. O fato é que estar sozinho te possibilita apesar de todo o apelo dos chocolates trufados, do cinema com todas as suas comédias românticas onde aconteça o que acontecer o Adam Sandler sempre conhece uma garota muito legal, faz algo de sacana, se arrepende e reconquista a moça de um modo espetacular no final (e animais, sempre alguém cria animais, de corujas a golfinhos), apesar do apelo comercial quando você se vê tendo que vagar pelo comércio lotado na véspera de dia dos namorados, tendo que dizer a todos os vendedores que não, não vou comprar aquela almofada de coração onde está escrito I love you e não, não tenho um relacionamento gay por ser o único homem na sessão masculina da loja  nessa época, apenas estou comprando roupas para mim e por estar sozinho.
  Sozinho, é aí que algumas coisas fazem sentido. Esse estágio único e fundamental da vida onde estamos simplesmente sós. Há uma grande magia nisso. Ou uma grande urucubaca, algo sobrenatural, obra da mãe Jussara ou da Cuca, o que também não deixaria de ser mágico. Ou simplesmente uma fase da vida onde você precisa aprender a ser mais amigo de si mesmo. Se não existe ponto sem nó, fabula sem moral, prova sem nota, solidão também deve ter uma razão de existir.
  Deve ser uma boa época para avaliar conceitos, ser mais altruísta, para se entender melhor o eu interior, para ir ao cinema sozinho e ficar meio chateado antes de entrar porque tem muitos casais na fila, durante o filme porque tem um casal se agarrando do seu lado e na saída, já que nesse momento você percebe que além dos pares que entraram no cinema antes de você tem muitos outros que apareceram depois. O fato é que ser só é a única e mais eficiente maneira de ver tudo fazer sentido quando não se estiver mais nessa condição. Tudo tem data e hora certa para acontecer e por vezes perdemos um tempo absurdo tentando simplesmente reverter uma situação que não deve ser revertida e sim apreciada. Por isso, aproveite esse tempo consigo mesmo. Aperte campainhas e saia correndo, passe o dia no computador, leia livros de auto ajuda (na verdade, procure ler outros tipos de livro), ande por aí nos caminhos que  quiser  mesmo se forem os mais longos, saia sem hora para voltar. Esse tipo de coisa faz muito bem e praticamente só pode ser feito a um. Ou isso ou esse texto todo é uma grande farsa porque eu estou sozinho domingo à noite e não tinha nada melhor para escrever, sempre pode ser isso.


domingo, 2 de dezembro de 2012

Felicidade E Porque as Melhores Coisas Da Vida São As Que Não Existem


    Felicidade. Essa busca constante e na maioria das vezes infrutífera dos indivíduos por algo que praticamente não existe. Ou ao menos não do modo que idealizamos e sim de um jeito que nos soca o nariz todos os dias e que deixamos passar desapercebido  por estarmos muito ocupados sonhando com brinquedos que na prática nem queremos ganhar no Natal.
  Porque ela existe, a tal da felicidade. E de dois modos distintos, até. Só que o primeiro é justo do modo idealizado. E aí finalmente fez sentido aquela frase que sempre li sem entender no muro: “As melhores coisas da vida são as que não existem”. O mundo é muito mais bonito em nossas mentes. O que sonhamos nos tende a deixar feliz enquanto não se realiza justamente porque é a prova de falhas, de imprevistos, é a prova do próprio mundo, simplesmente. E assim o casamento perfeito se dissolve após dez anos, o carro dos sonhos vai para o recall três vezes, a Seleção Brasileira perde duas copas seguidas e só ganha o desafio contra a Argentina porque enfim, o critério de desempate era quem bate pênalti mais longe e a viagem dos seus sonhos aos Andes não rendeu tanto porque você desenvolveu uma alergia realmente muito estranha quando aquela lhama te cuspiu no olho. Tudo isso é bom e deve ser feito sim, o que faz tudo tender ao fracasso é essa esperança descabida e desmedida de sermos totalmente felizes e que atribuímos as coisas ou a outras pessoas
  Que a felicidade não tem preço, que não custa dinheiro, além de um tremendo clichê, é bem verdade também. Todas as coisas mencionadas tem seu preço, mas só o dinheiro não foi capaz de torna-las um sucesso. Além disso, quem aqui não se viu frustrado alguma vez na vida por se ver impedido de comprar seu próprio ornitorrinco? Pois por mais dinheiro que se tenha, por vias legais é praticamente impossível se adquirir um ornitorrinco.
  Mas ser feliz, no plano real e apesar de tudo, acredito que seja possível sim. Mas de um segundo modo. Na simplicidade, mesmo que recaia também em um segundo clichê. Porque de fato, a felicidade está nas menores coisas. Quer queira ou não olhar para o céu, quase sempre haverá um show esperando para ser apreciado à noite e de graça. A flor que cresce no jardim da sua empresa está ao alcance da sua mão todos os dias, mas se eu pegar uma rosa igual no jardim do vizinho e der a você, vou te deixar mais feliz (embora não saiba desde quando o vizinho tem um Pastor Alemão daquele tamanho na frente da casa dele). O violão mais caro ou o mais barato, se tornam quase iguais, quando uma música é tirada. E por mais que o instrumento tenha algum valor, o som sai de graça. Aquela aula sobre aminas que deixamos de assistir só para ficar na pracinha rindo da vida, quando descobrimos nomes de bluetooths do tipo “Lenon Fofo” ou “Pato Gostoso”. Tudo isso é bacana, simplesmente porque não foi planejado, acabou acontecendo mesmo assim e fez um bem danado, mesmo que por alguns minutos, que seja.
  E é por essas e outras que as melhores coisas da vida não existem, as coisas muito boas não tem preço e ainda temos de lutar constantemente contra a frustração diária de não poder ter um ornitorrinco em casa, o que eu continuo achando uma sacanagem.

domingo, 25 de novembro de 2012

Sobre Iaques, Crianças e Para Onde Caminha a Humanidade


  As crianças estão cada vez mais espertas. Nascem sabendo dirigir carros, ligar celulares, jogar Xbox, como um dado de fábrica na memória. Com uma capacidade e expressividade incomuns e assustadoras. Elas nascem simplesmente velhas, vividas antes do tempo, é o que parece.
  E ao mesmo tempo, fico me perguntando, se elas possuem nesses “padrões de fábrica” algum conhecimento do que é realmente útil. Quantas dessas crianças devem ter ouvido o mugido de uma vaca, visto que o leite não sai em pó delas? Quantas dessas crianças sabem que as jabuticabas crescem nos troncos das árvores? Quantas já viram um peixe ser pescado num rio, ao invés de congelado num freezer de supermercado?
  A modernização bem que devia servir para isso, pra que essas boas coisas da vida não sejam esquecidas. Se ter um filho inteligente significa que ele conheça as cinco marcas diferentes de suco de laranja no supermercado, mas que nunca tenha visto uma laranjeira (não que eu já tenha visto uma), prefiro que ele seja burro, que possa criar seu próprio iaque, que não tenha medo de andar descalço, que prenda vaga-lumes em caixinhas de fósforos.
Fico imaginando onde a humanidade vai parar, quanto tempo ela dura com essa super safra de crianças prodígio que se tornarão adultos, farão reuniões de amigos pelo facebook, vão iniciar namoros pelo celular e ler seus e-books antes de dormir. Acho bom que embriões sejam implantados por chips, porque caso contrário não vamos precisar de aquecimento global, calendário Maia ou chuva de meteoros para vermos o fim do mundo. Vamos apenas parar de multiplicar. A Skynet vai ficar muito feliz. E nem precisa do Schwarzenegger. Já estamos exterminando nosso próprio futuro.


domingo, 18 de novembro de 2012

Apenas Mais Um Post de Amor. E De Caroços de Feijão


É impossível decifrar o que se passa na mente alheia. As pessoas são um mistério. Todo mundo adora mistérios. Acho que por isso que a gente se apaixona. E há mistérios de todo tipo, porque existem pessoas de todo tipo. Alguns conseguem se expressar tão facilmente, são eficientes em demonstrar o que sentem. Outros passam diariamente pelo mesmo dilema que um caroço de feijão passaria para provar ao mundo que tem água dentro dele ao tentar demonstrar seus sentimentos. E é justamente nisso que se perde o melhor das pessoas. Todo mundo sempre quer tudo tão resolvido, tão deduzido, tão mastigado. Ninguém anda preocupado em entender o sentimento, em enxergar a ternura que as coisas têm em estar dando certo simplesmente por ainda não ter dado errado. Ninguém quer cozinhar o grão de feijão que é o sentimento alheio. E eu sei que essa comparação entre feijões e sentimentalismo pode estar não funcionando muito bem.
  Aquele tempo onde mensagens de celular são respondidas, as pessoas se esbarram por acaso, onde se descobre afinidades, onde as conversas são longas e divertidas, onde as piadas ainda são novas, onde não se disse nada, porque não se tem o que dizer. Esse sim é o melhor tempo e muitas vezes nem percebemos. Hoje em dia tudo é tão frio, impessoal. Deixamos de estar com pessoas que poderíamos ver para desfrutar da companhia das mesmas separadas pelo frio da tela de um computador. Somos capazes de dizer “eu te amo” sem que o som dessas palavras seja pronunciado. Palmas para o modo moderno e maduro de se viver em sociedade.
  E o mais louco nessa vida é que sempre tem alguém que reparou em você. Sempre. Mas essas coisas tem a tendência de se desencontrarem. Seja pela distancia, seja por vergonha, seja pela simples e natural dificuldade de se demonstrar o que se sente, seja pelo medo de garotas vestidas de palhaço, o certo é que muita coisa se perde enquanto os olhos piscam. 


domingo, 11 de novembro de 2012

A Eterna Falta Do Que Fazer Dominical (“Me Abrace, Me Dê Um Beijo, Faça Um Filho Comigo, Mas Não Me Deixe Sentar Na Poltrona Num Dia De Domingo”)

 Domingo é em consenso um dia muito chato. Talvez o Faustão não concorde muito com isso, talvez. Domingo é dia de se fazer besteira, olhar o ponteiro do relógio girar, não pensar em nada além de combinações absurdas de jogos de futebol do campeonato brasileiro, onde vemos frequentemente times que não devem ter torcedor algum em um raio de 1000 km se confrontando ao vivo e em 19 canais diferentes, assistir filmes excessivamente repetidos ou alguma categoria de automobilismo onde o Rubinho continua tentando negar que muito melhor seria desistir de tudo e montar um posto de gasolina no meio de alguma estrada da Amazônia, afinal se for para ver outros carros passando por ele eternamente, que seja ao menos pago para isso.
  São também aos domingos que temos as ideias mais absurdas como caminhar até a praia distante 10 km de casa ou criar e alimentar blogs sem significado e de temática indefinida. É dia de levar nãos e foras colossais que te fazem tomar porres de suco de maracujá, que provocarão quedas de pressão  ao nível de você só acordar no pronto-socorro, com uma injeção de adrenalina direto no peito. É quando acordamos de manhã e ao abrir o portão do quintal damos de cara com um homem adulto de 150 quilos sem camisa, deslizando de barriga para baixo de um lado para o outro no piso molhado.
  E são justamente essas coisas que fazem do domingo um dia importante, apesar de tudo (talvez não essas coisas, mas são elas que acontecem o tempo todo). Domingo é para se descansar, já que até Deus descansou. E aposto que nessa folga aproveitaram para criar os programas dominicais da TV, só pode. 


domingo, 28 de outubro de 2012

Indecisão Profissional E Talentos Desperdiçados

  As pessoas estão fazendo tudo mais cedo. Se casando mais cedo, morrendo mais cedo, tendo filhos mais cedo, acordando mais cedo (não que por isso durmam mais cedo também). E principalmente estão exercendo o ofício máximo da humanidade de escolher caminhos errados e tomar decisões das quais irão se arrepender por toda uma vida, cada vez mais cedo.
  Escolher uma profissão por exemplo. Essa escolha tem sido forçada a ser cada vez mais precoce. Como por jovens de 14, 15 anos para decidirem onde atuar por uma vida toda, se tudo que eles querem é ir ao show do Restart ou faltar aula para assistir a Hannah Montana? Tudo na vida tem seu tempo. Por isso mesmo não adianta dar pausa no Xbox para ir a tantas feiras de profissões, testes vocacionais, cursinhos específicos. Óbvio que é preciso crescer e que o tempo é implacável, mas vai ver não  é preciso ter tanta pressa em se tornar um adulto socialmente aceito, mas um profissional  lastimável e insatisfeito, como tanto acontece, só para atingir um status, fazendo com que sua família te entenda, respeite sua coleção de Smurfs feitos de chumbo e seu medo quase patológico do palhaço Bozo, que persiste até hoje.
  Além disso, fico imaginando quanta gente boa perdemos todos os dias para esse requisito social que é estar graduado em algum desses ramos tidos como top. Quantos excelentes cineastas, comediantes, escritores, jardineiros, criadores de porco e vendedores de pipoca doce perdemos a cada colação de grau só pelo medo de uma simples surra e alguns anos expulso de casa? É preciso crescer sim, mas para se realizar e tornar o mundo algo como aquele da propaganda de achocolatado, onde correm rios de chocolate branco e se surfa em biscoitos recheados. Do jeito que estamos indo, vamos continuar injetando café com leite nas veias um dos outros por muito mais tempo, só para satisfazer algum requisito da sociedade, mesmo que seja preciso negar nossas aptidões e esquecer de vez o surf no chocolate.


domingo, 21 de outubro de 2012

Intolerância, Ônibus Lotado, Motorista Orlando ou Simplesmente Porque Jogar Garrafa Pet no Para-Brisa Dos Outros É Refresco #2


  Ônibus lotado. Calor. Mulher com o plano infinito de ligações sentada ao fundo. Cheiro de suor. Também ao fundo um cara sentado no assento da janela, garrafa pet na mão. E nesse momento você percebe que já poderia estar ganhando seu próprio dinheiro, o suficiente para comprar seu próprio carro. Então se dá conta de que não tem sequer para a habilitação e que no momento só tem o dinheiro contado para a passagem e olhe lá, pois não está encontrando a moeda de um real que completa o valor. Nisso o ônibus já saiu da cidade. Existem coisas com as quais temos que nos acostumar. O Mano Menezes treinando a seleção, pessoas que homenageiam ex-presidentes decepando dedos mínimos. Médicos que decepam dedos por dinheiro. E ônibus lotados.
  Acostuma-se também com a intolerância. Mal a viagem havia começado, aprendi o nome do motorista. O cobrador mandou Orlando abrir a porta do ônibus. Deixara uma velhinha embarcar cheia de sacolas, mas deve ter achado que o pé da pobre tia já era peso extra, porque fechou a porta praticamente na canela dela. Passado o primeiro ato, o homem com a garrafa pet atira o plástico pela janela e acerta um carro. Buzinas, automóvel vermelho ultrapassando o ônibus. Somente um ocupante no veículo. Ou ele iria realizar um assalto ou dar carona ao cobrador, de tão lotado que estava aquele dia. Nenhum nem outro. Fez o coletivo parar, saltou do carro e gritou para o Orlando, perguntando quem tinha jogado a bendita garrafa. O motorista não só abriu as duas portas do ônibus como ainda gritou que tinha sido do fundo do coletivo.
  O homem do carro desferiu alguns palavrões, o da garrafa se desculpou. O homem do carro disse que daria um tiro no outro, o da garrafa mudou de cor pela terceira vez, limitando-se a gaguejar pedindo desculpas novamente. Depois fiquei sabendo que o homem do carro vermelho era um policial da região, famosos pelo pavio curto. Foi embora, ficou tudo por isso mesmo. O homem que jogou a garrafa provavelmente nunca mais fará isso, mas não deixará de fazê-lo para salvar a natureza, ao menos não a do planeta. Vai deixar de jogar lixo na estrada para salvar a sua própria existência, arrisco esse palpite. De todo modo, naquele dia ficou provado que estamos sempre atirando fora garrafas e mais garrafas de tolerância, com ou sem ônibus lotado.

domingo, 14 de outubro de 2012

Intolerância, Ônibus Lotado, Motorista Orlando ou Simplesmente Porque Jogar Garrafa Pet no Pára-Brisa Dos Outros É Refresco #1


 Um grande acontecimento social é o ônibus lotado. Com todos os seus elementos representativos, pegar um transporte coletivo em horário de pico pode ser uma das experiências mais divertidas do dia de qualquer um, ou o mais lógico, pode se tornar o meio mais curto e barato para se aborrecer consigo mesmo e a sociedade como um todo.
  No meu caso, não pude deixar de ficar contente em ver que o ônibus estava cheio, mais feliz ainda quando dei conta de que estavam garantidas 2 horas de viagem em pé, radiante  em ver o estado do ônibus que eles disponibilizam para uma viagem metropolitana. Aquilo não deveria rodar nem dentro de uma única cidade. Não encontrei palavras ainda para descrever a emoção ao lembrar o valor da passagem: 6 reais por todo esse conforto e diversão. É ou não é para ficar feliz com tudo isso? Uma sardinha eu já sabia como se sentia. Naquele dia aprendi mesmo como um atum importado viaja (pelo tempo da viagem, embora eu ache que alguns dos peixinhos enlatados chegaram bem mais rápido que eu ao seu destino). E como todo evento social, um ônibus lotado costuma ser sempre uma mescla de figuras tão caricatas que sempre observamos nessa modalidade de transporte:

#1 O Motorista: Sem ele o ônibus não anda. Mesmo com ele, por vezes também não. Mas faz o que pode. Nesse caso o motorista é o Orlando. Um sujeito sem noção,troll e fanfarrão.

#2 Tia Velha Com Um Número Absurdo de Sacolas: Como ela conseguiu trazer tudo até a parada sozinha, já que mal consegue subir os degraus do ônibus é a grande dúvida. Outro mistério é como consegue descer as mesmas sacolas. A sorte da Tia é a existência, cada vez mais rara, de pessoas dispostas a ceder seus lugares.

#3 Sujeito Sem Consciência Que Está Sentado: É aquele cara que não se levanta quando a Tia Velha Com Um Número Absurdo de Sacolas (como ela trouxe tudo até a parada sozinha?) entra no ônibus lotado, mas que é o primeiro a dar o lugar quando a gostosa aparece.

#4 Sujeito Sem Noção Que Vai Em Pé: Faz piadinhas sem graça do tipo “é igual a coração de mãe, cabe mais um”. Às vezes diz para as pessoas que vão subir que pararam o ônibus errado, temendo a lotação já absurda. Se a gostosa não tiver conseguido um lugar, costuma dar em cima dela, ou ao menos seca-la descaradamente. Em fins de semana essa figura é mais frequente e conhecida também como O Bêbado. Se o mundo se desfizesse em um apocalipse Zumbi, o Sujeito Sem Noção Que Vai Em Pé corresponderia ao gordinho nonsense  que sempre acaba sendo o primeiro a morrer e que ainda quase ferra com a vida de todo mundo.

#5 A Gostosa: Bem, ela é a gostosa. Gosta de se exibir, é meio extravagante. O telefone dela sempre toca e geralmente o ringtone é alguma música de funk daquelas mulheres com voz de travesti. Acho que seria a segunda a morrer no apocalipse zumbi, pela falta de inteligência.

#6 Mulher Com Algum Pacote Infinito de Telefonia: Ela consegue ir pendurada no celular alheia ao mundo, mesmo que a viagem dure mais que trinta horas. Deve ter uma língua e uma bateria atômica, porque a conversa nunca acaba e o celular nunca descarrega.

#7 O Cobrador: Já que ônibus não é de graça, sem cobrador nada funciona. Possui um raciocínio matemático e lógico provavelmente muito acima da média pois que para ele “afasta mais um pouquinho pra trás que cabe mais gente”. É da mesma turma do motorista, então deve ser outro fanfarrão, só pode.

E com toda essa combinação acaba acontecendo de um tudo. Pessoas vomitando em outras, polícia buscando drogas, assaltos. E gente jurada de morte por atirar garrafas pet em para-brisas, o que eu prometo contar no próximo post. A intolerância também pega ônibus lotado.


sábado, 6 de outubro de 2012

Sobre Eleições, Política E Candidatos Sem Noção



 
Enfim chegaram as eleições. Tantos candidatos, tantos partidos, tantas propostas. Para muitos o horário político eleitoral faz rir muito mais que qualquer Zorra Total, embora isso seja mesmo muito fácil. E beira o absurdo as coisas que vemos nos programas políticos.
  Vemos os mais variados candidatos e acaba-se fazendo uma distinção entre o considerado hilariantemente sem sentido e o aceitável. Mas o que é aceitável? Políticos engravatados, com musiquinhas legais ou nem tão legais assim, uns vídeos com umas crianças com catarro escorrendo pelo nariz ou bebês assustados sendo abraçados (eu entendo o susto, também tenho medo de palhaço e até hoje) e propostas baseadas em palavras bonitas, que muitas vezes não dizem nada com coisa nenhuma, o povo não entende, mas sabe que em alguma hora vão começar a bater palmas e é o momento de soltar fogos. E tudo isso o que é pior, porém lógico, costuma ser da boca, ou melhor, do terno e gravata para fora.
 E muitas vezes o rapaz que quer dar Raduken na corrupção, o Wolverine ou o Irmão Toinho “marinheiro de primeira viagem, mas o comandante da embarcação é Jeová” podem ter de fato ideias simples e ótimas intenções, mas nunca vão ser levados a sério. De todo modo fazem a gente rir muito mais e nem que seja por isso, merecem nosso respeito. E sem canetas.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Uma Moça Como Todas As Outras




  Clarisse. Uma moça como todas as outras. Uma menina que faz sapateado como todas as outras. que escuta blues como todas as outras. Que assiste a filmes do Godard como todas as outras. Que joga xadrez e toda tarde ao chegar da escola, vai para o quintal, acomoda-se em uma árvore e põe-se a ler livros de Shakespeare como todas as outras. Mas as outras meninas não gostam de ganhar flores. E talvez ela não seja assim tão comum.
 Mandei flores para Clarisse, mas as flores murcharam sem que ela as visse. Despencou da árvore e morrera  ontem. Mudei de ideia novamente. Clarisse é tão comum que morreu, como sempre morre todo mundo.

sábado, 15 de setembro de 2012

Um Post Sobre Infância



Bem, eu fui uma criança feliz. Cresci com saúde, rodeado de brinquedos e do amor da minha família, como tem de ser. Mas ainda sim conversando com as pessoas, sempre acabo descobrindo algo que aparentemente todas as crianças faziam e que eu não me recordo de fazer.
Comer barro, sabão ou cola, por exemplo, (embora a do sabão sempre seja demais pra mim, mas vai, entra na descrição também) conversando com amigos sobre infância, sempre alguém  tem uma boa história sobre comer uma dessas coisas. Eu nunca tive problema nenhum com isso. Eu também nunca tentei enfiar dedo em tomada, nunca saltei do berço, levei um tombo feio, em resumo eu era uma criança muito sem graça.
Mas eu acho que o meu certificado de sem-infância está mesmo em não ter assistido O Sexto Sentido. Inclusive, mesmo adorando cinema, eu não assisti até hoje e espero ganhar ele de presente,qualquer hora dessas, diga-se de passagem.
Traumas também não tenho muitos, tirando aquela semana cultural na primeira série em que  a Tia Vilma  me obrigou a usar uma fantasia de mula sem cabeça. E até hoje eu tento entender porque a fantasia consistia em uma roupa de jornal até o pescoço, com uma máscara que imitava chama por três horas seguidas. Tava quente e minha mãe foi me ver logo no começo e ainda me mandou ficar até o fim. Enfim, com todas as idas e vindas  tive uma excelente infância que me deu as bases para o que sou hoje e para o que eu pretendo ser amanhã, como essa fase tem mesmo de ser, mas Tia Vilma eu te odeio, na boa.

Sobre Mudanças, Idas e Vindas (Ou o Eterno Ioiô Que É Esse Blog)



 

E cá estamos nós mais uma vez. Voltei a escrever aqui. Estava difícil continuar, então eu parei. Mas as coisas mudam, assim como certo dia você acorda e percebe que perdeu o gosto por sei lá, chupetas ou por assistir Malhação, por exemplo.
Eu não sei bem sobre o que escrever, vou deixar a coisa fluir naturalmente. Para se escrever, tem que se aventurar, ter algo a mais para contar. Não que eu tenha algo para contar, mas o mais importante é se fazer o que gosta, eu gosto de escrever, tirando claro redação de “como foi minhas férias”, onde para passar de quinze linhas, eu acabava mentindo sobre piqueniques no parque e viagens a casa de avós, porque a professora de certo não ia aceitar a verdade nua e crua de duas linhas: acordei depois do meio-dia e joguei super nitendo durante trinta dias seguidos. Ela me daria zero de todo modo, porque nunca consegui finalizar Super Mario Bros,talvez eu devo ter sido a única criança dona de um videogame que não finalizou Super Mario. Mas enfim, é isso, estou aqui de novo. Vamos ver até onde vai dessa vez, mas dessa vez sem redação sobre férias, sério.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Sobre Amor e Manuais de Instruções



Sempre ouvi dizer que a melhor das invenções que faltam no ser humano seria um manual de instruções. Sabe, teria mesmo suas vantagens.  Se interessou por uma pessoa? Pega o manual, dá uma lida, veja o que agrada e como agrada o tal indivíduo, qual tipo de pessoa lhe convém mais .
Mas sabe, acho que as vantagens ficariam por aí. Primeiro porque muitas pessoas viriam ao mundo trazendo seu manual algum tipo de hebraico bem antigo e praticamente indecifrável. Segundo porque pense só na quantidade de falsificações que seriam feitas em coisas desse tipo e terceira: Qual seria graça, ou nem digo graça, qual seria o sentido de se amar alguém ou de se buscar alguém para amar? Sim porque amar não é (ou não deve ser, ao menos) uma busca de qualidades, de compatibilidades, de encaixes perfeitos de personalidade. Relacionamentos deveriam ser bem mais que isso. Identificar alguém que lhe valha realmente a pena deveria ser sim motivo para assumir o risco de tentar, meio como se alguém te pedisse para treinar a Seleção Brasileira para a próxima copa, entende? (Claro que não entende, que analogia mais ridícula, mas foi a melhor que eu consegui achar). Ela vai estar destinada ao fracasso, todo mundo pode dizer que não vai dar certo, mas se você não se atrever a assumir o cargo e não cortar o Neymar, nunca saberá de verdade se iria ser campeão.
E as incompatibilidades? Elas não serviriam pra nada, vai ver por isso que não temos manuais. Quantas vezes nos apaixonamos pelos defeitos dos outros tanto quanto pelas qualidades e além disso amar não é ir além, em busca de um enriquecimento pessoal mútuo? E fora que manual nenhum tornaria possível entender uma mulher ou como consertar a seleção, na boa.