domingo, 25 de novembro de 2012

Sobre Iaques, Crianças e Para Onde Caminha a Humanidade


  As crianças estão cada vez mais espertas. Nascem sabendo dirigir carros, ligar celulares, jogar Xbox, como um dado de fábrica na memória. Com uma capacidade e expressividade incomuns e assustadoras. Elas nascem simplesmente velhas, vividas antes do tempo, é o que parece.
  E ao mesmo tempo, fico me perguntando, se elas possuem nesses “padrões de fábrica” algum conhecimento do que é realmente útil. Quantas dessas crianças devem ter ouvido o mugido de uma vaca, visto que o leite não sai em pó delas? Quantas dessas crianças sabem que as jabuticabas crescem nos troncos das árvores? Quantas já viram um peixe ser pescado num rio, ao invés de congelado num freezer de supermercado?
  A modernização bem que devia servir para isso, pra que essas boas coisas da vida não sejam esquecidas. Se ter um filho inteligente significa que ele conheça as cinco marcas diferentes de suco de laranja no supermercado, mas que nunca tenha visto uma laranjeira (não que eu já tenha visto uma), prefiro que ele seja burro, que possa criar seu próprio iaque, que não tenha medo de andar descalço, que prenda vaga-lumes em caixinhas de fósforos.
Fico imaginando onde a humanidade vai parar, quanto tempo ela dura com essa super safra de crianças prodígio que se tornarão adultos, farão reuniões de amigos pelo facebook, vão iniciar namoros pelo celular e ler seus e-books antes de dormir. Acho bom que embriões sejam implantados por chips, porque caso contrário não vamos precisar de aquecimento global, calendário Maia ou chuva de meteoros para vermos o fim do mundo. Vamos apenas parar de multiplicar. A Skynet vai ficar muito feliz. E nem precisa do Schwarzenegger. Já estamos exterminando nosso próprio futuro.


domingo, 18 de novembro de 2012

Apenas Mais Um Post de Amor. E De Caroços de Feijão


É impossível decifrar o que se passa na mente alheia. As pessoas são um mistério. Todo mundo adora mistérios. Acho que por isso que a gente se apaixona. E há mistérios de todo tipo, porque existem pessoas de todo tipo. Alguns conseguem se expressar tão facilmente, são eficientes em demonstrar o que sentem. Outros passam diariamente pelo mesmo dilema que um caroço de feijão passaria para provar ao mundo que tem água dentro dele ao tentar demonstrar seus sentimentos. E é justamente nisso que se perde o melhor das pessoas. Todo mundo sempre quer tudo tão resolvido, tão deduzido, tão mastigado. Ninguém anda preocupado em entender o sentimento, em enxergar a ternura que as coisas têm em estar dando certo simplesmente por ainda não ter dado errado. Ninguém quer cozinhar o grão de feijão que é o sentimento alheio. E eu sei que essa comparação entre feijões e sentimentalismo pode estar não funcionando muito bem.
  Aquele tempo onde mensagens de celular são respondidas, as pessoas se esbarram por acaso, onde se descobre afinidades, onde as conversas são longas e divertidas, onde as piadas ainda são novas, onde não se disse nada, porque não se tem o que dizer. Esse sim é o melhor tempo e muitas vezes nem percebemos. Hoje em dia tudo é tão frio, impessoal. Deixamos de estar com pessoas que poderíamos ver para desfrutar da companhia das mesmas separadas pelo frio da tela de um computador. Somos capazes de dizer “eu te amo” sem que o som dessas palavras seja pronunciado. Palmas para o modo moderno e maduro de se viver em sociedade.
  E o mais louco nessa vida é que sempre tem alguém que reparou em você. Sempre. Mas essas coisas tem a tendência de se desencontrarem. Seja pela distancia, seja por vergonha, seja pela simples e natural dificuldade de se demonstrar o que se sente, seja pelo medo de garotas vestidas de palhaço, o certo é que muita coisa se perde enquanto os olhos piscam. 


domingo, 11 de novembro de 2012

A Eterna Falta Do Que Fazer Dominical (“Me Abrace, Me Dê Um Beijo, Faça Um Filho Comigo, Mas Não Me Deixe Sentar Na Poltrona Num Dia De Domingo”)

 Domingo é em consenso um dia muito chato. Talvez o Faustão não concorde muito com isso, talvez. Domingo é dia de se fazer besteira, olhar o ponteiro do relógio girar, não pensar em nada além de combinações absurdas de jogos de futebol do campeonato brasileiro, onde vemos frequentemente times que não devem ter torcedor algum em um raio de 1000 km se confrontando ao vivo e em 19 canais diferentes, assistir filmes excessivamente repetidos ou alguma categoria de automobilismo onde o Rubinho continua tentando negar que muito melhor seria desistir de tudo e montar um posto de gasolina no meio de alguma estrada da Amazônia, afinal se for para ver outros carros passando por ele eternamente, que seja ao menos pago para isso.
  São também aos domingos que temos as ideias mais absurdas como caminhar até a praia distante 10 km de casa ou criar e alimentar blogs sem significado e de temática indefinida. É dia de levar nãos e foras colossais que te fazem tomar porres de suco de maracujá, que provocarão quedas de pressão  ao nível de você só acordar no pronto-socorro, com uma injeção de adrenalina direto no peito. É quando acordamos de manhã e ao abrir o portão do quintal damos de cara com um homem adulto de 150 quilos sem camisa, deslizando de barriga para baixo de um lado para o outro no piso molhado.
  E são justamente essas coisas que fazem do domingo um dia importante, apesar de tudo (talvez não essas coisas, mas são elas que acontecem o tempo todo). Domingo é para se descansar, já que até Deus descansou. E aposto que nessa folga aproveitaram para criar os programas dominicais da TV, só pode.