As crianças estão
cada vez mais espertas. Nascem sabendo dirigir carros, ligar celulares, jogar
Xbox, como um dado de fábrica na memória. Com uma capacidade e expressividade
incomuns e assustadoras. Elas nascem simplesmente velhas, vividas antes do tempo,
é o que parece.
E ao mesmo tempo, fico me perguntando, se elas possuem nesses “padrões de fábrica” algum
conhecimento do que é realmente útil. Quantas dessas crianças devem ter ouvido
o mugido de uma vaca, visto que o leite não sai em pó delas? Quantas dessas
crianças sabem que as jabuticabas crescem nos troncos das árvores? Quantas já
viram um peixe ser pescado num rio, ao invés de congelado num freezer de supermercado?
A modernização bem
que devia servir para isso, pra que essas boas coisas da vida não sejam
esquecidas. Se ter um filho inteligente significa que ele conheça as cinco
marcas diferentes de suco de laranja no supermercado, mas que nunca tenha visto
uma laranjeira (não que eu já tenha visto uma), prefiro que ele seja burro, que
possa criar seu próprio iaque, que não tenha medo de andar descalço, que prenda
vaga-lumes em caixinhas de fósforos.
Fico imaginando onde a humanidade vai parar, quanto tempo
ela dura com essa super safra de crianças prodígio que se tornarão adultos, farão
reuniões de amigos pelo facebook, vão iniciar namoros pelo celular e ler seus e-books antes de dormir. Acho bom que embriões sejam implantados por chips, porque caso contrário
não vamos precisar de aquecimento global, calendário Maia ou chuva de meteoros
para vermos o fim do mundo. Vamos apenas parar de multiplicar. A Skynet vai
ficar muito feliz. E nem precisa do Schwarzenegger. Já estamos exterminando
nosso próprio futuro.