domingo, 27 de janeiro de 2013

Um Post de Luto


    Dessa vez vocês não verão por aqui uma imagem divertida e nem tiradas cômicas. Não hoje. Eu apenas não consegui postar algo que parecesse tão corriqueiro, tão leve, tão comum a nossas vidas. De repente tudo pareceu tão pequeno, tão frágil, tão supérfluo que julguei uma insensibilidade e uma contramão a tudo o que todos estão sentindo, a tudo o que eu mesmo estou sentindo. Então escrevi isso. Minha homenagem, meu desabafo, o meu pensamento. Sei que esse texto vai ser lido por alguns levando em consideração o calor do momento. Outros o irão pular por ser a batida triste da mesma tecla já tão vista no dia de hoje na mídia e comentada onde quer que se ande. Mas eu realmente acredito que as pessoas vão entender o a minha intenção e irão compartilhar desse sentimento.
  Tantos jovens. E logo nesse dia. Dia em que comemorava e compartilhava a conquista do vestibular com meus amigos, que conversava com alguns deles, que compartilhei desabafos, que joguei aqueles joguinhos nas redes sociais, que olhava para a televisão entre um momento e outro de frente para o computador. Uma madrugada pacata, de uma vida pacata. Não sai da minha cabeça desde que fiquei sabendo pela manhã do ocorrido, que naquela mesma hora, naquele exato momento, tantas vidas jovens se apagavam simultaneamente a minha existência que continuava e que agora escreve esse texto. Hoje reabri o boletim do Sisu. Não pude deixar de pensar que muitos daquelas pessoas, jovens como eu ou você, esperavam por aquele resultado ou quem sabem, o comemoravam. Fui dormir pensando no homem que eu posso me tornar daqui a quem sabe dez anos. Pensando no curso que iniciarei a alguns meses. Pensando no texto que eu postaria hoje no blog. Fui dormir e acordei. Vi um novo dia nascer, sem fazer ideia que essa dualidade tão grande que existe em tudo o que nos rodeia, se mostraria. E com tanta força.
  Duvido muito que em dias como esse a própria natureza não se enlute. Impossível não notar como tudo pulsa de modo diferente, as horas passam de uma forma que simplesmente não podemos explicar. Deve ser o mundo tentando doar sua parcela de compreensão e consolo a tantas vidas jovens que se foram e de uma vez só. Consolo não apenas aos que faleceram lá, mas aos pais, filhos, amigos, irmãos que acabaram indo em parte com eles. E de um modo tão abrupto. Uma energia jovem, que com toda certeza ocupou um valioso espaço nesse mundo e que o curso natural das coisas não conseguiria deixar ir assim, de forma tão doída.
  Sei que o que ocorreu hoje em Santa Maria vai ser alvo incansável da mídia, que com certeza irá cumprir sua função de informar, comunicar e dar sua parcela de apoio no que for possível. Mas temo que ela extrapole a atenção por interesses não tão nobres, como ocorre por vezes. De resto, minha crença de que tudo tem um porque será mantida. O fato de não sabermos as respostas jamais irá anular a existência delas. Com ou sem explicação, o domingo 27 de janeiro de 2013 será triste para todo o sempre. 

domingo, 20 de janeiro de 2013

Sobre Afinidades e Um Fantástico Medo de Palhaços


 
  O mundo como conhecemos se tornou um lugar onde encontramos de tudo um pouco. De pessoas que gostam de cebola á pessoas que odeiam cebola, dos que tem pânico de palhaço aos que fazem disso uma profissão, dos que não gostam muito de café aos que tem como conceito de emprego dos sonhos, trabalhar provando a bebida.  E com tudo conectado, basta um clique e temos acessos a fóruns de discussão, grupos de facebook e eventos sobre o que  se possa imaginar. Por essa perspectiva deveria ser bem mais fácil se cercar de pessoas com os mesmos interesses, jogar conversa fora, construir laços duradouros ou para simplesmente entender como aos 20 anos alguém ainda pode ter medo do Bozo.
  Não que isso não ocorra. A informação continua sendo compartilhada sim, as interações até são feitas, mas aqui vou acabar recaindo novamente a costumeira incredulidade sobre os limites que uma sociedade tão moderna impõe às relações humanas. É tão mais simples segmentar os assuntos por interesse, por ordem de importância, que não nos damos conta de que estamos segmentando pessoas, por vezes  as restringindo a um interesse muito resumido. Esquecemos o que é realmente afinidade. O quanto é incrível e cada vez mais raro topar com pessoas que tenham o mesmo gosto que você, que gostem de admirar o pôr do sol, que gostem dos mesmos filmes que uma proporção considerável das pessoas que você conhece achou uma porcaria, que consigam levar adiante a ideia de criar uma versão de Mortal Kombat com uma trama protagonizada por professores da faculdade (os fatalities incluiriam derivações do adversário e conjurações de moscas, mas eu aconselharia não tentar entender essa parte, sério), que achem que a ideia de uma garrafa de vinho barato em um sábado a noite pode sim ser uma cilada e principalmente pessoas que compreendam e compartilham da ideia de que se você empresta uma caneta a alguém, não quer tê-la de volta com a tampa toda mastigada.
     São essas pequenas coisas e tantas outras que fazem diferença, ou ao menos que deveriam fazer. A medida do que nos aproxima e do que nos distancia das outras pessoas pode trazer tantas coisas boas, mas frequentemente nem nos damos conta disso. E assim, em parte por medo, em parte por falta de tempo, em parte pela tendência que temos de nos fechar ao mundo, nos distanciamos do que realmente deveria importar. Assim perdemos a chance de viver aqueles pequenos-grandes momentos que ficam na memória, deixamos de construir laços memoráveis e nossa recusa em entrar no Mc Donald’s por conta do cara fantasiado de Ronald na porta continua sendo incompreendida. E assim as canetas continuam com as tampas estragadas.


domingo, 13 de janeiro de 2013

As Novas Relações Sociais E Porque O Princípio Básico Talvez Não Seja Mais A Comunicação


  Estamos cercados de invenções. Algumas boas, outras nem tanto. Quanto mais evoluímos ao longo da história, mais tivemos boas ideias, com boas intenções, que logo passamos a utilizar de modo desordenado, para o mal ou por pura burrice mesmo. Foi assim com o fogo, com a roda, com a pólvora, com a tv e foi assim com o computador. Que evoluiu como um Pokémon bem treinado até o nível onde uma pesquisa com a expressão “iaque roqueiro” retorna resultados. É nesse momento que devemos nos perguntar se estamos realmente sendo espertos em nos afastar cada vez mais do simples jogo diário do homem primitivo de fugir de tigres dente-de-sabre e polir pedras.
  A internet tem uma proposta muito boa. Um único ambiente, que reúne conhecimento, diversão e vídeos de ovelhas lutando caratê é uma ideia de ferramenta que simplesmente não se pode descartar. Mas as redes sociais, que deveriam atender ao propósito de unir e encurtar distâncias, tem se tornado um verdadeiro pretexto para que o ser humano se isole mais e mais nesse mundo onde todos estão sempre com tanta pressa e ninguém parece muito preocupado em muito mais que o próprio umbigo. E mais que isso, ela se reflete em nossas ações, todos parecem muito mais seguros e satisfeitos em exercer sua vida social, dentro de casa, na segurança do próprio computador e esquecem que nem tudo pode ser feito assim. Fico imaginando, por exemplo, o quanto tivemos sorte do movimento dos “Caras pintadas” não ter sido nesses tempos de facebook. Porque se tivesse sido, não teria passado de uma mobilização com todo mundo mudando a foto de perfil, compartilhando umas coisas legais sobre democracia e principalmente assinando uma petição no avaaz. Quem iria se arriscar nas ruas? Isso sem nenhum exagero, porque quando você vê por aí um depoimento que diz “nos conhecemos no twitter, ela me deu rt, conversamos no msn . Um mês depois ela me cutucou no facebook e eu soube que era ela” é o exato momento que dá pra perceber o quanto as coisas estão indo de mal a pior, nesse admirável mundo novo.
  E desse modo, aparentemente inofensivo, de curtidas, bloqueios e retweets, que vamos perdendo o melhor da vida. Não desprezando o uso desse meio, muitos movimentos positivos foram disseminados na internet, muitas amizades foram cultivadas a longa distância, muitos romances se iniciaram em ambiente virtual, muitos vídeos sem sentido algum, mas que nos fazem rir já foram vistos por aí, mas tudo continua sendo uma questão de dosagem, que não está sendo mais respeitada. As pessoas preferem jogar songpop ao invés de se reunirem pra conversar, abandonam a ideia de encontros para se conheceram pelo chat do facebook, deixam de escrever cartões para postar uma imagem de “mensagens para facebook.com”.  Do jeito que vai, de tanto curtir páginas no face, quero só ver o que ainda vamos ter para compartilhar do lado de fora, no mundo real.

*Agradecimento a Emanuela Silbat, pela sugestão do tema.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Apocalipse Alienígena, Amor E Outras Drogas


  Sou daquele tipo de pessoa que acredita que nada é por acaso. Não tropeçamos por acaso. Não lemos um determinado livro ou assistimos um certo filme por acaso. Não somos alérgicos a refrigerantes de uva por acaso. E não nos apaixonamos por acaso. Mas lógico que existe uma distância gigantesca entre entender o significado das coisas e ter a plena consciência de que elas existem. E assim, o amor se faz um desses enigmas que talvez só Robert Langdon com seu conhecimento sobre simbologia, ou os elfos da Terra Média que sabem ler runas antigas, saibam responder. Ou talvez nem eles.
  Porque se formos ver a sério, somos um aglomerado de situações aleatórias, uma enciclopédia de acontecimentos que não fizemos a menor força para acontecer. Aquele instante em que você se abaixa para amarrar os sapatos, aquele segundo em que alguém te suja de maionese temperada ou que você está tendo um dia ruim e chega na parada de ônibus a tempo de ver um maluco descalço com um cachorro nos braços gritando “agora nós vamos mostrar a eles”. Bem, nada disso pode ser por acaso, mas se você se perguntar o que vai ganhar por estar perto do cara com o cachorro, além de pulgas, talvez não tenha uma resposta convincente.
  E é quase assim com o amor (ou eu não sou bom com analogias, provavelmente não sou). Mas o fato é que tanta gente está sempre entrando na sua vida. O tempo inteiro. Algumas delas não vão ser relevantes na sua existência, outras terão um lugar reservado por todo um longo período, talvez para sempre. E por algumas nos apaixonamos. E pronto. Em um instante nos vemos com chocolates, programações de cinema e mensagens de facebook e por muitas vezes o resultado não é o esperado e nos tornamos apenas um aceno sem nome no meio da multidão. Porque não se escolhe, não basta escolher, se é escolhido, tem que ser escolhido de volta.  E nesse mundo de inconstâncias, onde todo mundo parece criar uma bolha, um mini mundo onde só seus interesses podem entrar e que de retorno garantido não se tem nem a volta para casa, frequentemente nos damos com os burros n’agua. E essa é a parte que eu ainda não consegui entender, o porque de largar os pobres burrinhos na água. Mas por não saber as respostas, não quer dizer que elas não existam. Resta então aguardar o dia que as pontas vão se atar e entender o quanto aquela sua mania de deixar copos com água espalhados pela casa vão salvar você de um apocalipse alienígena um dia.