domingo, 20 de janeiro de 2013

Sobre Afinidades e Um Fantástico Medo de Palhaços


 
  O mundo como conhecemos se tornou um lugar onde encontramos de tudo um pouco. De pessoas que gostam de cebola á pessoas que odeiam cebola, dos que tem pânico de palhaço aos que fazem disso uma profissão, dos que não gostam muito de café aos que tem como conceito de emprego dos sonhos, trabalhar provando a bebida.  E com tudo conectado, basta um clique e temos acessos a fóruns de discussão, grupos de facebook e eventos sobre o que  se possa imaginar. Por essa perspectiva deveria ser bem mais fácil se cercar de pessoas com os mesmos interesses, jogar conversa fora, construir laços duradouros ou para simplesmente entender como aos 20 anos alguém ainda pode ter medo do Bozo.
  Não que isso não ocorra. A informação continua sendo compartilhada sim, as interações até são feitas, mas aqui vou acabar recaindo novamente a costumeira incredulidade sobre os limites que uma sociedade tão moderna impõe às relações humanas. É tão mais simples segmentar os assuntos por interesse, por ordem de importância, que não nos damos conta de que estamos segmentando pessoas, por vezes  as restringindo a um interesse muito resumido. Esquecemos o que é realmente afinidade. O quanto é incrível e cada vez mais raro topar com pessoas que tenham o mesmo gosto que você, que gostem de admirar o pôr do sol, que gostem dos mesmos filmes que uma proporção considerável das pessoas que você conhece achou uma porcaria, que consigam levar adiante a ideia de criar uma versão de Mortal Kombat com uma trama protagonizada por professores da faculdade (os fatalities incluiriam derivações do adversário e conjurações de moscas, mas eu aconselharia não tentar entender essa parte, sério), que achem que a ideia de uma garrafa de vinho barato em um sábado a noite pode sim ser uma cilada e principalmente pessoas que compreendam e compartilham da ideia de que se você empresta uma caneta a alguém, não quer tê-la de volta com a tampa toda mastigada.
     São essas pequenas coisas e tantas outras que fazem diferença, ou ao menos que deveriam fazer. A medida do que nos aproxima e do que nos distancia das outras pessoas pode trazer tantas coisas boas, mas frequentemente nem nos damos conta disso. E assim, em parte por medo, em parte por falta de tempo, em parte pela tendência que temos de nos fechar ao mundo, nos distanciamos do que realmente deveria importar. Assim perdemos a chance de viver aqueles pequenos-grandes momentos que ficam na memória, deixamos de construir laços memoráveis e nossa recusa em entrar no Mc Donald’s por conta do cara fantasiado de Ronald na porta continua sendo incompreendida. E assim as canetas continuam com as tampas estragadas.


2 comentários:

  1. Como sempre um texto interessantíssimo. A vida é assim pequeno Felipe, somos apenas os Pierrôs sofrendo pela Colombina - E viva a palhaçada..!!!!!

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