domingo, 30 de junho de 2013

Sobre Os Pequenos Detalhes Que Fazem Toda A Diferença


    A sociedade em que vivemos nos dá diversas opções de tudo o que queremos. Comida chinesa, sapatos azuis, filmes no cinema, livros, fotos de lhamas voadoras, amigos, profissões a seguir. Tudo isso faz com que nos tornemos mais exigentes e atentos aos detalhes. Em um mundo onde livros custam mais caro do que deveriam, filmes do Bruno Mazzeo estreiam toda semana nos cinemas por causa das leis de incentivo (e ainda cobram 25 centavos em direitos autorais) e pessoas que você conhece na semana passada e que pareciam absolutamente idôneas te oferecem um cogumelo colorido saído dos jogos do Super Mario ou te fazem acordar numa banheira cheia de gelo sem um pulmão, o fígado e com um rim a menos, ser detalhista te possibilita manter mais órgãos no corpo ou encontrar um sapato azul que te agrade.
  Mais um clichê que faz sentido, um detalhe faz toda a diferença. É quando pormenorizamos as situações que percebemos o quanto temos de escolher.  Uma ideia condizente com a sua própria ou um olhar raro de se encontrar pode ser porta de entrada para uma bela estrada com alguém. A lembrança de um pôr do sol de um lugar visitado apenas uma vez pode torna-lo especial e sempre presente em sua memória. Aquele salgado de frango da cantina que parecia estar estragado vai te fazer sempre duvidar de promoções das cantinas de faculdade. E aquele professor tão descolado que deu a entender claramente que passaria todo mundo sem grandes complicações, mas no meio do semestre desapareceu e foi substituído por um monstro sem alma ou coração talvez te faça para sempre achar que deveria tentar levar os estudos a sério.
  Mas como chocolate e tudo o mais que existe nessa vida, tudo demais é veneno. E ser detalhista em excesso pode ser arriscado. Podemos perder um dedo inteiro por lixar excessivamente a unha, que julgamos estar um pouco desigual no canto, embora claro, sempre exista a possibilidade dessa analogia ser péssima. Mas o fato é que embora “detalhismos” sejam bem-vindos por razões cercadas de sentido e já mencionadas (principalmente no tocante às lhamas voadoras), sair procurando detalhes demais pode nos tornar racionais em excesso, fazendo da vida um imenso Criminal Case do facebook e o que é pior, com todas aquelas solicitações. Uma caminhada na praia não vai deixar de ser bonita só porque parece que pisei em cocô de cachorro de pés descalços. Não dá para desprezar as minúcias, na verdade são elas que tornam as coisas diferentes e te fazem ver onde ninguém mais enxerga. Só não dá para sacar uma lupa e correr por aí pormenorizando tudo.
  É por essas e outras que com certeza um detalhe faz toda a diferença. Uma letra errada na sua carteira de identidade pode ser o suficiente para ser detido pela Polícia. Um pênalti marcado por engano pode mudar a história de um jogo e garantir que amanhã não vou precisar ver centenas de bandeiras do Brasil em prédios, automóveis e cachorros pintados de verde-e-amarelo simplesmente porque a Seleção ganhou essa bendita Copa das Confederações. E é claro, pelo simples detalhe da palavra “voadora” na hora de pesquisar lhamas no Google possibilitou essa bela imagem que estampa o post. Mas cuidado com os excessos, para não ver lhamas-unicórnios-rosas-voadoras, embora eu particularmente tenha achado bastante criativo e espero que exista de verdade.

domingo, 23 de junho de 2013

Pequenas Considerações Sobre Morte, Morrer e o Seu Omar

  Acredito que a maioria das pessoas ao olharem o tema da postagem de hoje vão achar estranho. Vão olhar e pensar que o blog deve ter mudado de foco depois que conseguiu seus 20 centavos a menos pela passagem de ônibus e que nesse tempo onde todos andam sacando cartazes pedindo educação, saúde e redução no preço dos shampoos, talvez eu tenha levado um também, pedindo o fim das temáticas sem pé ou cabeça no blog. Nada disso. A postagem pode até não ter um tom mais cômico hoje (talvez), mas não é uma regra e não é por falar sobre morte.
  Interessante essa relação funesta que temos com a morte. Alguns filmes e mais precisamente um livro que li, A Menina Que Roubava Livros, me fizeram parar e refletir acerca da morte. Ela deve mesmo ser um ser, uma entidade, uma criatura. Deve vagar por aí fazendo seu trabalho. Imagino até que trabalhe para Deus e para a Natureza. Um trabalho ingrato e temido, por sinal, mas de extrema necessidade. Eu não consigo observar a morte como aquele ser com rosto de caveira e a foice a tira colo, a não ser que ela venha de uma festa à fantasia.
  A morte deve ter se modernizado nessa virada de milênio. Deve ir trabalhar de terno, saindo de dentro de um belo carro importado. E deve ter empregados, ou melhor, deve ter resolvido terceirizar, de chapeiros de fast food a donos de indústrias de cigarro, tem sempre alguém fornecendo uma bela ajuda para a morte, passando por professores de cálculo com poder de parar o tempo ou o permanente risco diário e iminente de um jogo de golf narrado pelo Galvão Bueno e com transmissão obrigatória em toda a rede nacional, que seria algo que aumentaria consideravelmente a demanda de trabalho dela, dada a onda de suicídios coletivos que causaria.
  Imagino que morte seja um desses assuntos polêmicos, que ninguém quer começar a debater por medo e divergência de ideias, assim como o Neymar na seleção ou a criação de um banco de dados para a venda de vinagre. Mas a realidade é que a morte é uma grande piada, ou ao menos é a lâmpada que acende no bar depois desse grande show de stand up que é a vida.
  Morte também põe comida na mesa, para que o ciclo se complete, acaba que o Sr. Omar e muita gente se encarrega desse negócio. Como tudo nessa vida, ela tem seu aspecto mais brutalizado, porque não pede licença, por vezes, vem sem avisar e deixa um rastro rumo ao desconhecido, é verdade. Mas se até sua tia que aparece no primeiro dia do feriadão faz isso, porque temê-la tanto, por mais difícil que isso seja? Não que a gente vá andar por aí sem olhar para o lado ao atravessar a rua, mas é tentar entender que assim como o professor de Cálculo, ela só quer fazer seu próprio trabalho.

domingo, 16 de junho de 2013

Sobre Histórias Para Contar, Vendedores de Moldura e Os Malucos Que A gente Encontra Na Rua

  
O mundo vem se tornando a cada dia um lugar mais e mais hostil. Há medo nas ruas, raiva nos locais de trabalho e preocupações cerradas na mente de cada pessoa. E tudo isso intercalado com congestionamentos, ônibus lotados, alguém discutindo com o cobrador, a mãe do motorista sendo xingada, seja ela quem for. E dependendo da sorte do dia (aos que acreditam em sorte), com trilha de alguma engaiolada do funk ou de bandas de forró em músicas sobre alcoolismo e um medo patológico de que a polícia apreenda seu paredão de som automotivo.
  Exceto pelo infeliz que não conhece a invenção dos fones de ouvido e longe de ser justificável, essa conduta é ao menos explicável. No fim, o que todos querem é proteger a si mesmo e aos seus, em meio a essa imensa selva de concreto que obriga cada um a seguir seu próprio olho e seu próprio dente. Embora isso seja um problema se você tem problemas de visão ou se acabar seu fixador de dentadura.
  E no meio de tudo isso, esquecemos que as pessoas são essência. E que são essencialmente feitas de histórias, que todos carregam e que às vezes sentem necessidade de compartilhar com alguém ao seu redor.
  Desse modo, aquele homem que desceu da condução em que estava, cabeça enfaixada, se arrastando sobre um pedaço de papelão, parou em frente a um grupo de pessoas que aguardavam o ônibus, começou a contar sua história. Tinha sotaque paulista, falava bem e sobre muitas coisas. Imagino que talvez tudo o que ele queria era ser ouvido. Mas acabou sendo ignorado, em parte pelo medo que nos ronda, proveniente desse mundo que anda hostil, assim meio à Los Hermanos, em parte por termos a tendência de nos trancarmos em nossa própria existência.
  Por conta disso não saberia dizer se proceder assim e recusar a história alheia, é certo ou errado. Até porque não sei se existe certo ou errado quanto a isso. O fato é que o homem tinha uma história para contar. Todos sempre tem uma história para dividir, dos vendedores de moldura ao pessoal da igreja que bate na sua porta domingo de manhã. Do Galvão Bueno (apesar de que realmente não saberia dizer se estaria disposto a ouvi-lo) a senhorinha que sentou ao meu lado no ônibus e passou boa parte do percurso contando a história da vida dela, apenas por me achar parecido com o neto dela, mesmo enxergando com apenas 20 % da visão.

  Mas quer escrevamos em blogs, quer andemos pelas ruas passeando com um cachorro que usa sutiã na cabeça, quer estejamos numa roda de amigos ou caminhemos pelo mundo sozinhos usando dreadlocks e vendendo aqueles brincos legais feitos com penas, teremos nossa própria peça teatral escrita e pronta para ser contada, embora muitas vezes não haja plateia. Principalmente se tratando do Galvão Bueno, eu acho.  

domingo, 9 de junho de 2013

Das Mais Novas Teorias Conspiratórias


  A humanidade é movida à mistérios. Quem somos, para onde vamos, como se forma um tornado ou como eu consegui tirar dez naquela prova mesmo errando três questões são perguntas que sempre instigaram e fizeram a civilização “progredir” rumo a algum lugar, mesmo que seja rumo ao seu próprio fim.
  E desse modo não demorou muito para que uma parte das pessoas que caminham sobre esse mundo pirado começassem a notar que nada é por acaso e assim certos eventos tidos como aleatórios passassem a ser questionados. É interessante investigar mistérios, bacana sair por aí montando quebra-cabeças, mas sempre haverá uma teoria conspiratória para tudo o que existe e por isso mesmo às vezes fica difícil conviver com tanta ideia muitas vezes espremida, puxada e encolhida para caber dentro de uma convicção qualquer, ao bel-prazer de alguém que apenas cansou de ver Discovery Channel e decidiu sair à caça  de suas próprias explicações para qualquer coisa.
  Assim, ocorre que tudo acaba sempre questionado. O sucesso das telenovelas, o fracasso da Seleção Brasileira, o atentado de 12 de setembro, o terrorismo da tv aos domingos, as pirâmides egípcias e a velhinha que passeia com o cachorro que curiosamente sempre acaba fazendo cocô em frente aqui de casa, tudo isso é engrenagem de uma peça muito maior, que sempre inclui você, quer queira quer não e faz de cada um alguém responsável e um pouco produtor daquela sujeira que o cachorrinho faz diariamente em frente à sua casa.
  Pensar sobre essa perspectiva é legal quando não há nada pra fazer, quando passando numa praça lotada de pessoas você é a única pessoa a qual o pombo capricha na mira ou naquele momento em que mesmo sentado lá atrás o professor pergunta numa sala de quarenta alunos pra você (e apenas você) se está compreendendo a matéria, quando na verdade estava voando tão longe que nem sabe ao certo o que o professor te perguntou e tem que arriscar um “sim” para ver se ele te deixa em paz. Mas em geral é mais confortadora a ideia de que nem sempre há alguém manipulando tudo o que acontece de bom ou ruim, que as lhamas ainda cospem na sua cara com precisão e vontade próprias, que se houver uma guerra entre homens e alienígenas poderemos sim ganhar, que o Galvão Bueno um dia irá pedir aposentadoria.
  Podemos ser apenas formigas numa caixa, o Planeta Terra pode até ser apenas mais uma bolinha de gude a vagar no universo, facebook pode realmente ser uma forma de alienação coletiva, esse texto pode apenas não existir, sendo lido em um tela que não existe, diante de você que pode simplesmente nem existir, não além de um grande programa de computador o qual eu chamarei de vida e os mais nerds de Matrix. E continua sendo estranho o fato de que naquela noite de sábado em meio a um feriadão, as lanchonetes no entorno do maior hospital de emergências da capital e talvez da região só estavam comercializando salgados de carne. Talvez tudo isso não faça sentindo algum, talvez tenha algum significado. De garantia eu não lanchei aquela noite. Alguém em especial pode muito bem achar semelhanças entre uma conversa tida num banco de shopping dia desses e essa postagem, mas no fim isso deve ser apenas parte de mais uma das mais novas teorias conspiratórias.