domingo, 23 de dezembro de 2012

Sobre Viagens, Homens das Cavernas e Prato de Papa


  Não pelas dez horas de viagem que parecem intermináveis. Não pelas dez horas de viagem que parecem mais intermináveis ainda porque alguém quis ir o percurso inteiro ouvindo a discografia da Paula Fernandes sem fone de ouvido. Não pelas lanchonetes de rodoviária que tentam te vender um pacote de clube social por R$ 6,50. Não por alguém que tenta embarcar no ônibus com 100 reais de camarão em um isopor. Viajar é algo diferente do habitual porque é quando deixamos nosso modo de vida cotidiano, nossa rotina por vezes tão exaustiva e aquela mania de olhar as horas no celular a cada 2 minutos e esquecer que horas eram apenas para nos distrair, conhecer novos lugares ou relembrar os antigos e é claro para ver a sua tia, mesmo apesar dos seus dezenove anos e barba na cara te mandando sair da cozinha e ir brincar com as outras crianças.
  E o que mais me fascina nessas ocasiões em que podemos viajar, é a chance de observar a vida passando, o tempo que parece correr de um modo diverso do nosso, as pessoas com preocupações tão diferentes, as cidades com ruas que  talvez nunca saberemos o nome e com candidatos a vereador chamados “Prato de Papa”, sério tem um político por aí com esse nome. Por uma mochila nas costas e sair (ainda que se estiver acompanhado de alguma mulher, quer seja sua mãe, sua namorada ou sua irmã, não importa, pois elas irão levar o triplo de coisas que uma pessoa é capaz de usar mesmo considerando uma enchente, um tornado e um apocalipse zumbi, vão voltar com o dobro da bagagem e vai sobrar para você ter que carregar isso tudo) é uma oportunidade única para dar uma chance ao que realmente importa. Se entender melhor, ouvir os sons da natureza, quem sabe se decidir a levar uma nova vida. Ir a algum lugar e achar nele o que uma pessoa precisa para ser feliz, para constituir uma família, para mudar de nome e passar a se chamar Frederico Augusto. Ou apenas para dar uma relaxada, uma respirada, renovar as baterias e mudar de ares.
  Temos sempre o hábito de viver de modo tão atribulado, sempre às voltas com as preocupações que escolhemos ter que terminamos por esquecer as coisas mais simples, como o sol nascendo ou se pondo, um céu bonito numa noite estrelada, um banho de chuva, uma boa conversa sem preocupação com o tempo. Assumimos uma identidade robotizada, onde os caixas da loja de departamentos são capazes de te deixar ir embora depois de quinze minutos na fila sem levar o produto simplesmente por não ter troco, sem tempo para pensar e apenas em prol da sobrevivência pela sobrevivência. E eu aqui pensando que o ser humano havia evoluído e criado toda a estrutura moderna que dispomos justamente para viver mais e melhor, com mais tempo para tentar ser feliz. Isso faz pensar que mais tranquilo e sábio era o homem das cavernas, que mesmo por necessidade e não por opção vivia viajando. Desse modo, quer seja em busca de fogo, quer seja apenas por um pouco de paz, viajar é uma daquelas coisas que todo mundo precisa fazer de vez em quando. Mas se for de ônibus não tente levar camarão. Dá uma confusão feia. E não esqueça o fone de ouvido.


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