O mundo está cada vez mais insano, mais individualista, mais
consumista. As pessoas andam sempre tão focadas nesse ideal de sucesso que é
ter um apartamento para a maresia corroer à beira-mar e uma geladeira que
converse com você quando chegar em casa após um dia cansativo de trabalho.
Lutar, vencer, batalhar, tudo isso é essencial na vida de qualquer ser humano,
mas como tudo o que existe, é questão de dosagem. E a overdose disso podemos
observar aí fora. A humanidade cada vez mais relutante em viver em sociedade,
os computadores exercendo funções cada vez mais necessárias em nossa vida e a
geladeira que além de conversar com você, te diz o que precisa comprar no
supermercado e se vai chover amanhã, o que na minha opinião não a torna mais
inteligente enquanto geladeira.
E como consequência
de tudo isso, as pessoas estão esquecendo de valorizar e praticar o exercício
da camaradagem e do companheirismo, para se trancafiar em seu próprio mundo,
teoricamente à prova de frustrações e fracassos. Viver em sociedade é formar
laços, é interagir, é precisar e também ser útil a alguém. Afinal, se aquela
galera barbada da Pré-História não tivesse tido a ideia de se reunir em grupo
em torno de uma fogueira para contar umas histórias de terror, grafitar umas
paredes de gruta e se defender de tigres dente-de-sabre, a humanidade não
teria chegado até aqui.
O que acontece é que
todo mundo anda meio descrente, com um pé atrás na hora de dividir essa barra
de chocolate por vezes amarga que é a vida. Mas amizade é essencial e ocorre de
diversas formas. Pode ser a amizade que se forma entre pessoas que convivem
diariamente, onde fica implícita uma dependência mútua, mas que ainda assim vai
além dessa necessidade. Ainda que seja uma relação de companheirismo que traga
em si certas implicações que incluem todo mundo faltando prova para ficar na
pracinha conversando coisas sem nenhum sentido, a certeza de que mesmo que
ninguém saiba nadar e que todos estejam no Titanic ainda assim ninguém vai ser
capaz de ter uma conversa racional e coerente e é claro, o fato de que se
emprestar uma caneta, vai precisar pedir muito para tê-la de volta, sabendo de
antemão que ela vai voltar com a tampa toda mastigada.
Ou o
amor-amigo, essa loteria onde conseguimos alguém que nos entenda, dispostos a
dividir momentos juntos, onde uma caminhada de mãos dadas conversando sobre
semáforos é uma coisa indescritivelmente boa. E é claro, a amizade entre ser
humano e animal de estimação, seja ele um felino como nome de médico alemão, o
poodle do seu amigo que gosta tanto de você a ponto de tentar pinar na sua
canela por uma tarde inteira, ou quem sabe uma bela relação de companheirismo
com um cervo cósmico. O fato é que todas essas formas de amizade tornam a vida
mais leve, mesmo carregando implicações e “poréns” que sempre vão valer as
concessões que acabam sendo feitas, sendo sempre o caminho melhor do que ter
que receber um sms da sua geladeira te mandando comprar mais açúcar, o que é
muito estranho e assustador, já que você guarda o açúcar no armário.
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