Todo mundo adora novidades. O cheiro de novo
e a sensação de que nunca teremos falhas, ou que se as tivermos será apenas
em um futuro bem distante é muito atraente. Somos criados como que para fugir
de problemas, para nos manter longe deles. Quer ter problema maior do que a
procura por uma assistência técnica em um domingo, ou a corda de um violão que
quebrou no feriado de carnaval? E quebrou de velha, devia ter trocado logo
todas as cordas e antes dos problemas começarem. É assim com copos
descartáveis, amores, móveis antigos, novas amizades. É assim com aquela tia
velha que veio para passar o carnaval com você.
As pessoas realmente se iludem com o novo. Imaginam
que a verdadeira maestria está em desencavar novos tesouros. Mas no mundo de
hoje está aí a parte mais fácil. Jack Sparrow passou 4 filmes à caça de
tesouros, mas foram os personagens de sempre e aquele macaco estranho que fizeram o enredo se desenrolar (dormi quase 12 horas antes de escrever esse
texto e estou sem criatividade para analogias e coisas do tipo, então me perdoem). Dá para entrar
com muita facilidade na vida de alguém. Selecionamos afinidades para poupar o
próprio trabalho da procura e a aventura da descoberta. Depois nos ocupamos da
interação que fazemos questão de abandonar tão logo notamos os primeiros
problemas e as primeiras incompatibilidades. As pessoas costumam reclamar que
estão sós, mas fica bem difícil quando você não dá uma chance para o novo se
tornar usado. Essas mesmas pessoas devem ter deixado passar a companhia dos seus
sonhos sem nem se dar conta disso. E assim a Gretchen tem mais divórcios do que
você tem meias em casa.
A verdadeira mágica está mesmo em tornar o
novo uma coisa antiga e pelo uso. Fazer a caneta ser usada até secar a tinta,
descobrir que o seu amigo rói as unhas dos pés e mesmo assim não exclui-lo do
facebook (até porque dá para colocar molho de pimenta no dedão do pé dele e ver
o resultado disso parece legal). É poder dizer que te conheço desde o ensino
médio, que namoro aquela moça há cinco anos mesmo que ela tenha dificuldades
para se ver no espelho desde que assistiu a Espelhos do Medo. É levar seu
celular para o conserto ao invés de joga-lo na gaveta e procurar por um novo. Consertar,
tentar trazer de volta algo que deixou de ser como era antes justamente por
valer tanto a pena, ou aceitar certas coisas como elas são, porque no fim nem
nós mesmos concordamos com tudo o que fizemos e haverá dias em que nem eu mesmo
vou querer me ver refletido em um espelho.
Nada contra o novo, mas realmente acredito
que as novidades foram feitas para envelhecer. Ou isso ou o mundo é uma imensa
bola descartável, o que ainda não consegui acreditar. O cara que rói as unhas
dá umas dicas legais de filmes, a tia velha conta ótimas histórias dos tempos
de juventude, mas para tudo tem um limite e quatro Piratas do Caribe eram mais
que o suficiente.
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